Coimbra vai poupar na iluminação pública sob o olhar atento da universidade

35 mil lâmpadas tradicionais vão ser substituídas por lâmpadas LED, mais económicas. Projecto prevê um contrato especial.

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A factura da iluminação pública é a que mais pesa no consumo energético dos municípios – nalguns casos vale mais de 50%. Em Coimbra, a câmara gasta 2,8 milhões de euros por ano para iluminar as ruas da cidade. Para baixar este valor, a autarquia vai substituir 35 mil lâmpadas tradicionais por outras com tecnologia LED (light-emitting diode), que permitirá poupanças de 70%. Deverá tornar-se assim a primeira cidade do mundo “100% LED”.

O concurso público internacional para a instalação de um novo sistema de iluminação, no valor de quase 27 milhões de euros, foi lançado em Março de 2012 pelo anterior executivo camarário. Mas o projecto, que afinal deverá rondar os 40 milhões de euros, só deve avançar este ano após a assinatura dos contratos com as duas empresas vencedoras: ISA e Manuel Rodrigues Gouveia, ambas sedeadas no concelho.

O presidente da câmara, Manuel Machado (PS), não quis nesta segunda-feira prestar declarações sobre o projecto, que saltou para a agenda mediática através de um comunicado da Universidade de Coimbra (UC). É que o contrato, que inclui também a criação de um sistema centralizado de gestão que permita, por exemplo, detectar avarias ou controlar a luminosidade das lâmpadas, vai ser acompanhado e avaliado por investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da universidade (FCTUC), ao abrigo do projecto europeu Transparense.

A elaboração de contratos, que envolve 20 países da União Europeia e é financiada em 2,1 milhões de euros por fundos comunitários, pretende regular o desempenho energético (CDE), segundo um código de boas práticas, comum para todos os países europeus. O objectivo é “aumentar a transparência” dos mercados energéticos, explica Carlos Patrão, investigador da FCTUC e coordenador do Transparense em Portugal.

“Um outro projecto europeu, designado Changebest, permitiu concluir que não há confiança entre a empresa de serviços de energia e o cliente. É essa barreira do mercado que queremos tentar combater”, afirma. Segundo este investigador do Instituto de Sistemas e Robótica da FCTUC, o propósito do CDE é “maximizar a poupança de energia, garantindo que ambas as partes – empresa de energia e cliente – sabem o que esperar uma da outra”.

E como funciona esse contrato? Carlos Patrão responde: “A empresa propõe ao cliente mudanças de tecnologia e diz-lhe quanto é que ele vai poupar com essas mudanças. A empresa investe, paga a nova tecnologia, e faz um contrato de longo prazo através do qual o cliente paga à empresa parte do montante poupado.”

É isso que vai acontecer em Coimbra. As empresas ISA e Manuel Rodrigues Gouveia vão substituir toda a iluminação pública da cidade por lâmpadas LED, mais económicas e eficientes, diminuindo a factura do município. Este pagará à EDP a electricidade consumida, como faz actualmente, e parte do valor poupado será pago às empresas instaladoras, que têm assim margem para investir. Se não houver poupança, as empresas não recebem.

Mas o risco das empresas é calculado, uma vez que são já conhecidas as vantagens da tecnologia LED em relação às tradicionais lâmpadas de vapor de sódio utilizadas na iluminação pública. Além de permitirem uma poupança no consumo que ronda os 70% (emitindo a mesma quantidade de luz que uma lâmpada normal), esta nova tecnologia "melhora a acuidade visual, reforçando a segurança rodoviária e das pessoas em caminhos públicos", explica Carlos Patrão. As lâmpadas LED, que funcionam com um pequeno chip que emite luz quando atravessado por energia eléctrica, são também muito mais resistentes. "Duram 50 mil horas em média, cinco a oito vezes mais do que as tradicionais, o que permite reduzir o custo de manutenção", acrescenta.

Ultrapassar aversão ao risco
Além da substituição das lâmpadas de vapor de sódio usadas para iluminar as ruas, o novo sistema deverá permitir gerir os horários de funcionamento dos candeeiros, controlar a luminosidade e detectar avarias. “No final do prazo de concessão [que neste caso será de 15 anos] é a câmara que fica com os equipamentos”, esclarece o investigador, acrescentando que esta parece ser a única forma de “acabar com o desconhecimento e com a aversão dos clientes ao risco” de investir em novas tecnologias que permitam aumentar a eficiência energética.

A substituição de luminárias tradicionais por LED na iluminação pública não é inédita em Portugal. Por exemplo, a vila de Arraiolos, no distrito de Évora, anunciou que ia fazer essa operação nas ruas do centro histórico já em 2011. Mas nenhum projecto tem a dimensão daquele desenvolvido em Coimbra, que será “o maior do género na Europa”, garante Carlos Patrão. “Coimbra vai ser a primeira cidade no mundo 100% LED”, afiança.

Além deste projecto, que funciona como um projecto-piloto de CDE, os investigadores da FCTUC pretendem acompanhar outro até Setembro 2015, data apontada para o final do Transparense. “Ainda estamos à procura de um segundo, noutra cidade, mas não na área da iluminação pública”, adianta o investigador.

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