Autoridades convictas de que a criança foi colocada no local onde apareceu

PJ suspeita de rapto e voltou a inquirir o pai do bebé de 18 meses “estranhamente” encontrado num matagal “batido” nos últimos dias por guardas florestais e populares, depois de ter estado três dias desaparecido.

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A criança foi encontrada às primeiras horas da manhã de hoje, mais de 70 horas após o desaparecimento DR

Cresce a convicção entre as autoridades madeirenses de que o menino Daniel, de 18 meses, foi raptado por estranhos que, face ao cerco montado pela polícia, terão desistido do intento e colocado, durante a madrugada desta quarta-feira, a criança no local onde foi encontrada cerca das 8h de hoje, um matagal junto à Levada Nova, no Estreio da Calheta, depois de ter estado desparecida durante três dias.

"As últimas diligências, os últimos acontecimentos podem levar a pensar que estamos perante um crime de rapto", declarou o coordenador da Polícia Judiciária na Madeira. É esse o cenário mais provável para que apontam as últimas diligências efectuadas, nomeadamente os interrogatórios conduzidos durante a manhã e início da tarde desta quarta-feira, acrescentou Eduardo Nunes, segundo o qual “a PJ vai continuar a investigar enquanto não estiver resolvido este caso".

“O menino não estava lá” e “por alguma razão apareceu agora”, garante o director regional das Florestas da Madeira, Rocha da Silva, adiantando que toda a zona do Atalhinho, onde Daniel foi descoberto, tinha sido “batida pelos elementos da Polícia Florestal nos últimos dias”.

“Como não havia indícios da sua presença” nos dias anteriores, “é normal que ela tenha sido colocada algum tempo antes” de ser descoberta, declarou Rocha da Silva à agência Lusa. Com as presentes condições atmosféricas, com temperaturas inferiores a 5º graus Celsius e quase sempre com chuva desde domingo, “era difícil a criança sobreviver sozinha estes dias todos e tinha de estar toda encharcada”, concluiu aquele governante, que considera todo este caso “muito estranho”.

"Sem sinais de exaustão"
Também o director do serviço de pediatria do Hospital Central do Funchal, onde o bebé continua em observação, considera “intrigante e muito difícil” uma criança ter sobrevivido num lugar tão frio durante mais de 70 horas. E aparecer depois, como revelou, "sem sinais de exaustão". José Luís Nunes adiantou que o menino “não estava subnutrido nem desidratado” e não apresentava hematomas ou “sinais visíveis de maus tratos”.

“Não tenho conhecimentos científicos, mas penso que uma criança não sobreviveria nestas condições, a cerca de 700 metros de altitude”, sublinhou Manuel Rodrigues que, na companhia de um amigo, também tinha percorrido na segunda-feira a zona do Atalhinho, sem encontrar quaisquer vestígios do Daniel.

“Fomos numa acção humanitária na tentativa de encontrar o menino, mas nada vimos”, contou ao PÚBLICO aquele professor da Calheta, adiantando que recorreram a equipamentos e roupas adequadas devido às baixas temperaturas registadas naquele local, e nos últimos dias sujeito a períodos de chuva.

“É o pequeno!”
Perplexo está também o indivíduo que encontrou a criança. Estava no meio do matagal, a cerca de 30 metros abaixo da levada e a 20 metros de um trilho que conduz à casa do tio Vicente, de onde desapareceu no domingo, durante um convívio familiar. A habitação situa-se a cerca de três quilómetros do local onde a criança foi encontrada.

“Estava sentada sobre a feiteira, com frio, a chorar”, conta Manuel Teixeira. Responsável pela distribuição da água da rega na localidade, este levadeiro deslocava-se ao Atalhinho, na companhia de outros colegas de trabalho, para a rotineira tarefa de verificação do curso de água, quando ouviu um choro. Depois, pela indumentária, confirmou a suspeita: “É o pequeno!”

Logo após o alerta dado por Teixeira à PSP, agentes da Polícia Judiciária que estavam nas proximidades em investigação deslocaram-se ao local onde apareceu o Daniel. Os investigadores acompanharam a criança até ao Centro de Saúde da Calheta, onde recolheram a fralda (suja) e as roupas usadas pela criança, as mesmas que envergava no dia do desaparecimento. Entretanto, voltaram a inquirir o pai, Carlos Sousa.

Depois de observada pelo médico de serviço naquele centro, Daniel foi transportado, na companhia da mãe, Lídia Freitas, para o Hospital Central do Funchal, para ser submetido a exames complementares de diagnóstico. Permanecerá no serviço de urgência pediátrica para novas observações, adiantou José Luís Nunes, numa conferência de imprensa onde também participou o presidente do Serviço Regional de Saúde, Miguel Ferreira.

Quando deu entrada no centro de saúde, na Calheta, a criança encontrava-se “clinicamente estável, bastante fria, mas consciente e com um choro vigoroso”, não apresentando hematomas nem indícios de violência, revelou aquele pediatra. Aí “bebeu, com avidez, dois copos de leite”, adiantou José Luís Nunes.

Cerco apertado
A criança esteve desaparecida desde o princípio da tarde de domingo no Estreito da Calheta, no sítio do Lombo dos Reis Acima, na Madeira. Foi encontrada antes das 8h da manhã desta quarta-feira, ou seja, cerca de 70 horas após o seu desaparecimento, com as mesmas roupas, mas molhadas, e, aparentemente sem sinais de hipotermia. Estava junto ao curso de água de rega (levada), diariamente controlada pelos levadeiros de serviço e constituindo um percurso pedonal muito frequentado por turistas, incindo os provenientes da estalagem existente nas proximidades.

A cerca de três quilómetros do local do desaparecimento, a zona do Atalhinho situa-se nos limites do concelho da Calheta. As autoridades estão já a tentar deslindar como foi possível o menino de ano e meio afastar-se tanto da casa dos padrinhos, onde se encontrava no domingo, no sítio conhecido por Lombo dos Reis, no Estreito da Calheta. Mas cada vez mais adensa-se a hipótese de rapto e posterior resgate da criança, face ao apertado cerco montado pelas autoridades policiais que nunca abandonaram o local, apesar do anúncio, eventualmente estratégico, da suspensão das buscas no final da manhã de terça-feira que originou uma polémica entre os responsáveis pelo Serviço Regional de Protecção Civil e da PJ.

O desaparecimento do menino, natural da vila da Calheta mas que se encontrava em casa de familiares residentes no Estreito da Calheta, no mesmo concelho, desencadeou uma operação de busca que envolveu os Bombeiros Voluntários da Calheta, a PSP e a Polícia Judiciária (PJ). Esteve ainda no terreno, domingo à noite, uma equipa cinotécnica da GNR. As buscas prosseguiram na segunda-feira e a PJ inquiriu os pais, que disseram suspeitar que alguém tenha levado a criança embora garantam não ter visto "ninguém estranho" nas redondezas.

 

 

 
 

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