Pais de jovens que morreram no Meco fizeram ultimato ao conselho de praxe da Lusófona

Caso passou a estar em segredo de justiça, segundo a Autoridade Marítima Nacional.

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Fátima Negrão diz que o filho, uma das vítimas do acidente, era pouco amigo do mar Miguel Manso

"Como é que os nossos filhos morreram?", é só essa a pergunta a que querem ter resposta. Os pais dos seis jovens que morreram no mês passado, na Praia do Moinho de Baixo, no Meco, depois de terem sido levados por uma onda, contactaram o Conselho Oficial da Praxe Académica (COPA) da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa, e deram aos seus membros até quinta-feira para dizerem o que se passou, disse ao PÚBLICO Fátima Negrão, mãe de uma das vítimas, Pedro Negrão. A partir daí, afirma, usarão todos os meios para obter respostas. O caso está em segredo de justiça.

Segundo informação avançada pelo gabinete do chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, "o processo foi avocado pelo procurador coordenador do Tribunal da Comarca de Almada, que decretou segredo de justiça". Por isso, "nenhum dado que conste no processo poderá ser disponibilizado".

Mas os pais pedem respostas. A mãe de Pedro Negrão, o jovem de 24 anos que era o responsável pelas praxes para o seu curso (Gestão), diz que os pais, que se reuniram este sábado para decidir o que vão fazer, têm muita informação recolhida mas também "muitas pontas soltas", notando que só quem está envolvido nas praxes saberá dar-lhes mais informação. "Os nossos filhos estavam lá de livre vontade, queríamos preservar o Conselho Oficial da Praxe Académica."

Fátima Negrão sublinha que os jovens foram passar o fim-de-semana de 14-15 de Dezembro juntos, de livre vontade, mas uma das grandes dúvidas é se estavam ou não no mar na madrugada de dia 15 e se isso constaria de uma praxe a que estariam a ser sujeitos.

"Fizemos uma comunicação ao Conselho de Oficial da Praxe Académica para que falem entre eles e tomem a iniciativa de vir falar connosco. Vimos apelar ao bom senso", diz. Se insistirem em manter o silêncio, os pais tomarão outras medidas, desde jurídicas à divulgação de mais informações para a comunicação social, sublinha. João Gouveia, o dux que liderava a comissão de praxes na altura do ocorrido, e que é o único sobrevivente, vai ser ouvido pela Polícia Marítima de Setúbal em quem o Ministério Público delegou a audição.

Fátima Negrão conta ainda que o filho era pouco amigo do mar. Têm uma casa em Odeceixe, no litoral alentejano, e Pedro só ia ao mar depois de muita insistência. Já outra das jovens, Carina Sanchez, " tinha pânico da água, tinha pavor às ondas, só ia à água com o namorado, isto dito pelo próprio", diz.

A mãe diz que o filho apenas lhe disse que ia passar um fim-de-semana com amigos da faculdade numa casa alugada. "Pediu-me para lhe ter prontas as duas camisas do traje académico, uma para sábado, outra para domingo." A um amigo contou que "ia ser um fim-de-semana duro", lembra.

Segundo Fátima Negrão, entre as 21h00 e as 22h00 os jovens foram vistos no Café Central em Alfarim, a cerca de dois quilómetros da praia do Moinho de Baixo. Já a proprietária do bar da praia referiu ter fechado o estabelecimento próximo da meia-noite — era noite de lua cheia, a essa hora olhou para o areal em frente e ninguém estava na praia. O alerta do sobrevivente foi dado por volta da uma da manhã. O que aconteceu neste período?

"Ninguém quer arranjar culpados, só queremos saber a verdade", diz Fernanda Cristóvão, mãe de Catarina Soares, outra das vítimas, explicando que "esta angústia está a transformar-se noutros sentimentos, em revolta".

Fábio Jerónimo, o nome avançado ontem pela Associação Académica da Lusófona como sendo "o responsável pelo COPA", em substituição de João Gouveia, diz que não foi contactado pelos pais. Mas, sublinha, também não tinha de ser. Isto porque, garante, não é o novo responsável pelo COPA, ao contrário do que informou a associação académica. Aliás, já terminou os estudos, diz.

"A académica não tem nada a ver connosco. E o que diz não corresponde nem de perto nem de longe à verdade. O responsável pelo COPA era o João Gouveira [o sobrevivente]. Eu já fui dux, mas já não sou. Não pertenço ao COPA. E agora não há nenhum responsável pelo COPA."

Fábio Jerónimo explica ainda que conhecia os jovens que morreram na praia, no Meco. "Éramos amigos." Garante, contudo, que não participou na organização do fim-de-semana. Este tipo de encontros aconteciam "todos os anos", por vezes mais do que uma vez e podiam participar "todos os trajados". Mas neste, diz, eram apenas sete "e só quem lá esteve pode saber" o que se passou. 
 
Notícia actualizada às 19h29
 
 
 
 

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