Obama: legalizar a "cannabis" é uma questão de justiça social

Esta droga "não é mais perigosa do que o álcool", defendeu o Presidente dos EUA

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Não devíamos estar a condenar miúdos ou consumidores individuais a longas sentenças de prisão

Barack Obama não encorajaria ninguém a usar “cannabis”. “É um mau hábito e um vício, não muito diferente dos cigarros que fumei durante uma grande parte da minha vida”. Mas a diferença crucial em relação a outros Presidentes dos Estados Unidos — até em relação a Bill Clinton, que dizia ter fumado, mas sem inalar, é que Obama já reconheceu ter fumado erva. “Não acho que seja mais perigoso que o álcool”, afirmou, embora não o recomende a ninguém.

Quando o Colorado se tornou o segundo estado norte-americano a legalizar a marijuana, depois de Washington – e 20 outros, bem como a capital federal, Washington D.C., permitirem a marijuana para fins medicinais – a pergunta feita ao Presidente tem toda a actualidade. E Obama coloca a questão não em termos de liberdades individuais, mas de justiça social.

O que incomoda o Presidente é a injustiça social e as desigualdades sociais que se escondem por trás da política de proibição da “cannabis” nos EUA. "Os miúdos de classe média não são detidos por fumar erva, os miúdos pobres são”, disse. “Os miúdos afro-americanos e os miúdos latinos têm mais probabilidades de serem pobres e menos probabilidades de terem os recursos e o apoio [necessários] para evitar sentenças excessivamente duras”, afirmou Obama.

Fumar marijuana é "uma má ideia"

“Não é algo que encoraje, e disse às minhas filhas que considero [fumar marijuana] uma má ideia, uma perda de tempo, que não é muito saudável”, continuou. “Mas não devíamos estar a condenar miúdos ou consumidores individuais a longas sentenças de prisão quando algumas das pessoas que fazem essas leis fizeram provavelmente a mesma coisa”, atirou.

Apesar da legislação a nível estadual que facilita o consumo de marijuana, a nível federal a marijuana continua a ser considerada uma droga “com alto potencial de abuso e que não pode ser usada sem supervisão médica”. A agência de luta contra a droga (DEA) norte-americana encara com preocupação estes esforços estaduais de legalização nos Estados Unidos — que correspondem a um movimento no mesmo sentido noutros países da América Central e do Sul, onde a marijuana é produzida, com o Uruguai a ter-se tornado em Dezembro o primeiro país do mundo a legalizá-la.

“Isto assusta-nos. Em todas as partes do mundo onde foi tentado, falhou sempre”, afirmou James L. Capra, director de operações da DEA, numa audição no Senado a propósito do cultivo de ópio no Afeganistão, citado pelo “Washington Post”. Mas pela primeira vez, a maioria dos norte-americanos considera que a marijuana deve ser legal: 58% dos que responderam a uma sondagem da Gallup de Outubro, o que representa uma subida de 10% em apenas um ano. Em 1992, quando Bill Clinton foi eleito — “fumei, mas não inalei”, disse ele — apenas 25% dos cidadãos achava que esta droga devia ser legalizada.

Mas neste momento nos EUA há um enorme entusiasmo com as possibilidades de uma nova indústria legal da marijuana — uma verdadeira bolha, que começou a inchar rapidamente a partir de 1 de Janeiro, quando as lojas do Colorado passaram a poder vender esta droga a pessoas maiores de 21 anos. Procuram-se modelos de negócios para fazer disparar este novo nicho de mercado que foi tema de capa da revista “Fortune”. A empresa de consultoria ArcView Group estimou que o mercado possa valer 2340 milhões de dólares este ano e que possa crescer para 10.200 milhões de dólares dentro de cinco anos.

“Houve uma assinalável revolução na indústria da 'cannabis'”, comentou Steve Berg, editor do ArcView Group, citado pela NBC News. “Embora algumas pessoas continuem apenas a fumar charros, há muitos outros formatos possíveis [para a consumir], que constituem uma proporção cada vez maior do mercado.”

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