Obrigações das empresas privadas com desempenho positivo em bolsa

Apesar do baixo volume de transacções, o valor nominal das obrigações emitidas pelas empresas nos últimos três anos resistiram à turbulência e estão acima do valor de venda. As elevadas taxas de juro oferecidas explicam a evolução positiva.

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Obrigações resistiram a convulções no mercado Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP

Os 2250 milhões de euros de obrigações emitidos por oito empresas privadas nos últimos três anos e destinadas à subscrição de particulares têm resistido à turbulência do risco do país e revelam uma evolução positiva. Apesar do baixo número de negócios registados, a evolução dos títulos, acima do valor nominal a que foram vendidas, é positiva para os detentores das obrigações.

A valorização também cria um ambiente favorável a novas emissões, se bem que as taxas de juro mais baixas, pela alteração de um conjunto de factores, entre os quais a diminuição do risco do país, podem tornar os títulos menos atractivos.

Emitidas ao par, ou a 100, as obrigações emitidas pelas oito empresas - EDP, Semapa, Brisa, Zon, Sonae SGPS, PT e REN e Mota-Engil – têm estado, salvo em algumas situações pontuais, acima do par. E em alguns casos chegam aos 106 e 107. Filipe Silva, director da Gestão de Activos do Banco Carregosa, disse ao PÚBLICO que a subida do preço das obrigações privadas tem acompanhado a queda de risco do países, ou a tendência positiva dos juros das Obrigações do Tesouro.

Ou seja, os vendedores estão a vender acima do valor a que compraram, um “prémio” que é pago pelo comprador, e que é compensado pela taxa de juro que vai receber no futuro.

Nos últimos dois anos – a primeira emissão da EDP ainda foi realizada em finais de 2011, mas o maior número foi lançado em 2013 -, o número de transacções de obrigações das empresas privadas foi reduzido. O total de negócios ascendeu a 133,6 milhões de euros, repartido por 12.158 negócios.

O fraco volume de negócios é natural neste tipo de valores mobiliários, dado que o investimento é atractivo pela taxa de juro, paga semestral ou anualmente, e que é muito superior aos tradicionais depósitos a prazo. O maior risco do investimento em obrigações é o de incumprimentopor parte do emitente das condições acordadas quanto a reembolso e taxas de juros.

As taxas de juro brutas das nove emissões são elevadas, variando entre os 6% do primeiro empréstimo da EDP e os 7% do da Sonae (ver tabela). A última emissão de dívida de empresas privadas e não financeiras, realizada em 2013 pela Mota-Engil, foi feita a uma taxa de 6,85%.

A conjuntura adversa, designadamente pela escassez de crédito bancário, e o elevado risco do país, que “barrou” o acesso aos mercados financeiros internacionais, onde apenas acedem algumas empresas nacionais (as que têm avaliação de risco ou rating), justificam as elevadas taxas de juro oferecidas pelas empresas naquelas emissões.

A valorização das obrigações facilita a venda aos subscritores que, apesar do valor da taxa de juro garantido, pretendem resgatar os títulos antes da maturidade. Mesmos nas emissões de obrigações cotadas, é muito frequente a venda antes da maturidade poder ocorrer abaixo do valor de emissão, ou seja, com perda para o vendedor.

A compra abaixo do valor nominal faz subir a rentabilidade da obrigação, ou a taxa de juro implícita, como aconteceu durante longos meses nas Obrigações do Tesouro português, situação que se inverteu recentemente, gerando uma queda dos juros da dívida portuguesa.

O bom desempenho das obrigações acontece apesar destas se encontrarem cotadas no mercado secundário da Euronext Lisbon, onde há apenas dois períodos diários de negociação, por chamada, em que o casamento de ordens só se faz se o preço proposto pelo vendedor e pelo comprador coincidirem.

Depois de testada a apetência do mercado, a emissão de obrigações para subscrição de particulares poderá continuar a ser uma alternativa ao financiamento, especialmente pelas empresas nacionais de menor dimensão. Já este ano, aproveitando a menor percepção de risco dos investidores face ao país, visível na queda das taxas de juro das obrigações soberanas, a EDP e a PT aventuraram-se nas emissões de dívida nos mercados internacionais. As duas empresas, que, têm notação de rating, conseguiram taxas de 4,875% e 4,625%, bem mais atractivas que os valores realizados na fase crítica da crise da divida.
 
 

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