A Golpada Americana dos Óscares

O filme de David O. Russell parte favorito com dez nomeações, seguido de Gravidade e 12 Anos Escravo, e isto diz tudo sobre os prémios de Hollywood.

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Bradley Cooper e Christian Bale em Golpada Americana

Há algumas semanas era 12 Anos Escravo que reunia o consenso na bolsa de apostas para as nomeações para os Óscares referentes a 2013. Agora que a listagem foi anunciada, na manhã de quinta-feira em Los Angeles (princípio da tarde de Lisboa), o filme de Steve McQueen foi ultrapassado em cima da meta por Golpada Americana.

A comédia policial de David O. Russell, inspirada por uma história verídica na Nova Iorque de finais dos anos 1970, é o único nomeado a “fazer o pleno” em todas as categorias nobres: melhor filme, realizador, argumento original e actriz e actor principais e secundários para Amy Adams, Christian Bale, Jennifer Lawrence e Bradley Cooper. E assim Russell, ex-enfant terrible do circuito independente, vê-se “consagrado” como máquina de Óscares pelo terceiro filme consecutivo, depois de The Fighter – Último Round e Guia para Um Final Feliz. Golpada Americana parte favorito e explica como os Óscares são – sempre foram, mas agora talvez mais visivelmente – prémio “de indústria”.

Gravidade, o tour de force espacial do mexicano Alfonso Cuarón, arrancou dez nomeações, incluindo as categorias de filme, realizador e actriz (Sandra Bullock, que aguenta hora e meia quase sozinha) – coisa muito rara para filme de “género”, mas reflectindo a capacidade de Cuarón impor a sua visão “de autor” num sistema de produção cada vez mais formatado.

O que temos, daí para a frente, é uma lista de nomeados praticamente sem surpresas: Martin Scorsese e Leonardo di Caprio (cinco citações para O Lobo de Wall Street), e Alexander Payne (o autor de Sideways e Os Descendentes tem seis nomeações para o seu road movie a preto e branco Nebraska, com o veterano Bruce Dern nomeado, o único dos filmes que não tem estreia marcada para Portugal). Meryl Streep (nomeada pela 18.ª vez por Um Quente Agosto) e Woody Allen (Blue Jasmine com três nomeações, para Cate Blanchett, Sally Hawkins e para o argumento).

Matthew McConaughey e Jared Leto (vencedores do Globo de Ouro pelos seus papéis em O Clube de Dallas; as transformações físicas exigidas pelos papéis são à medida dos votantes da Academia), e Judi Dench (a preencher a quota de veteranas britânicas por Filomena, de Stephen Frears). 

Capitão Phillips, de Paul Greengrass, sobre o caso verídico de um navio assaltado por piratas ao largo da Somália, tem seis nomeações (entre as quais para o somali Barkhad Abdi) – mas nenhuma delas, surpreendentemente, para Tom Hanks. De fora ficaram também A Propósito de Llewyn Davis, dos irmãos Coen (duas nomeações técnicas), Um Quente Agosto, de John Wells (só Meryl Streep e Julia Roberts nas categorias de representação), ou Mandela, de Justin Chadwick (melhor canção original mas nada para os actores).

Uma surpresa pequenina: um nome português na listagem (o animador Daniel Sousa, radicado nos EUA, cuja curta Feral está entre as cinco curtas de animação nomeadas). E uma raridade: todos os cinco nomeados para melhor filme estrangeiro comprados para Portugal (já vimos A Caça, de Thomas Vinterberg; vamos ainda ver A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino, Ciclo Interrompido, de Felix van Groeningen, Omar, de Hany Abu-Assad, e L'Image manquante, de Rithy Panh).

E 12 Anos Escravo no meio disto tudo? Afinal, são nove nomeações, incluindo melhor filme, realizador, argumento, actor (Chiwetel Ejiofor), actriz secundária (Lupita Nyong'o) e actor secundário (Michael Fassbender). Mas, tornadas inevitáveis pelos debates sobre a escravatura que rodearam a sua estreia, são, também elas, nomeações sem surpresa. Como os Óscares. 
 
 
 
 

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