Martin Scorsese é um santo e um prato mas tem um problema: só faz filmes muito bons e filmes muito maus. O último filme muito bom dele foi Casino, de 1995. Mas mesmo os filmes muito maus vêem-se bem porque tinham sempre coisas muito bem feitas dentro deles.
Pois sim. Nem quarenta anos de assiduidade me prepararam para o interminável deserto de originalidade e divertimento que constituem as três horas que dura O Lobo de Wall Street. No relógio passam 179 minutos. Mas, medido no tempo da alma, parecem três meses numa prisão dos anos 40.
Precava-se, como se o verbo precaver tivesse imperativo. Se quiser ganhar três horas de vida sem levantar um dedo ou gastar um cêntimo aqui fica a receita garantida para a felicidade: não vá ver O Lobo de Wall Street. Atenção quando aparecer de borla na televisão, daqui a um ano ou dois: não se deixe apanhar desprevenido. A vileza e o enfado não ganham bolor: em 2016 o filme será tão velho e tão mau como em 25 de Dezembro de 2013, o dia em que estreou.
Foi o último filme de Scorsese que vi até ao fim. Percebi ao minuto quinze que era uma merda e ao minuto vinte que queria ser uma comédia. Não acreditando no que estava a ver, por uma questão de respeito, vi até ao fim. Raios me partam. Raios partam também Scorxexé. Deveria ser condenado a fazer exclusivamente documentários sobre cinema e música durante um mínimo de três anos.
Proteja-se também de 12 Anos Escravo, que vimos na véspera: outra merda é.