Rastreio populacional a cancro colo-rectal está em planos oncológicos há mais de dez anos

Foram sucessivos os planos oncológicos nacionais, documentos onde os vários governos elencam as suas metas na área do cancro, em que o rastreio do cancro colo-reactal, que em Portugal mata 11 pessoas por dia, é colocado como objectivo.

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Paulo Pimenta

Já no plano de 2001-2005 preconizava-se “a pesquisa de sangue oculto nas fezes no grupo etário dos 50 aos 74”, depois no documento de 2007-2010 fala-se “na implementação em pelo menos um centro de saúde de cada administração regional de saúde até final de 2009”. Ponto da situação? Em 2014, há apenas três projectos-piloto, um no Alentejo, um na Região Centro e outro em três freguesias de Lisboa, diz o coordenador do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, Nuno Miranda.

O responsável diz que dos três cancros em que os programas de rastreio do cancro na população mostraram ser eficazes (colo-rectal, mama e colo do útero) é este o de mais difícil implementação. Desde logo, porque abrange maior número de pessoas, significaria que, pelas suas estimativas, poder-se-ia estar a falar da necessidade de 37.500 colonoscopias, necessárias depois de análises que dão positivo à pesquisa de sangue nas fezes (a primeira parte do rastreio), notando que só cerca de dois a cinco por cento dos testes onde há detecção de sangue são verdadeiros casos de cancro.

Assim, o objectivo de 2014 é perceber quanto custaria pôr em prática um programa desta natureza e se seria exequível face à situação actual do país.

O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Algarve, Pedro Nunes, antecipa a resposta: “Se se começar a fazer rastreio a toda a população, não é possível assegurar colonoscopias a quem precisa”, diz. “Se os centros de saúde mandassem todos os positivos para aqui, o serviço de Gastrenterologia rebentava”, notando que neste momento a sua unidade não tem tempo de espera para a realização do exame.

Mesmo não havendo programas de rastreio de base populacional, a procura de colonoscopias aumentou substancialmente nos últimos anos porque os médicos de família começaram a fazer pesquisa do sangue oculto nas fezes e a encaminhar de seguida os utentes para os hospitais que não têm vocação nem recursos para fazerem rastreio, sintetiza Leopoldo Matos, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia. Os hospitais da rede do SNS estão dimensionados para fazer diagnóstico e tratamento e não rastreio, por isso, rapidamente acabam por ficar sem “capacidade para responder à curva ascendente [de casos]”.

O presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Cunha Ribeiro, diz que “só avançarão quando houver capacidade instalada”, notando que “não há nenhum país da União Europeia que tenha resolvido o problema das colonoscopias nos rastreios de base populacional”.

Em relação ao rastreio do cancro da mama está implementado nas regiões do Norte, Algarve, Alentejo, Centro e parte da região de Lisboa e Vale do Tejo (falta a região urbana). No colo do útero existe no Alentejo, Zona Centro, em 60% da Região Norte, em parte do Algarve e não existe na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde “se espera que arranque este ano”, diz o coordenador do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas. 
 

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