Especulação cresce no CDS sobre possível escolha de Paulo Portas para comissário europeu

Líder do partido considerou que o cenário é "extraordinário", por estar a caminho de um novo mandato de dois anos. Os dois cargos são incompatíveis.

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Se Portas fosse para a Comissão Europeia, teria de abandonar a liderança do CDS Enric Vives-Rubio

A possibilidade de Paulo Portas vir a ser o novo membro português da Comissão Europeia é um dos cenários que tem vindo a ser invocado no interior do CDS, ao ponto de alguns sectores chegarem a afirmar que o acordo poderá já estar feito entre o líder do partido centrista e o primeiro ministro, Pedro Passos Coelho.

O visado nega qualquer intenção na matéria. Interrogado terça-feira à noite pela Rário Renascença sobre a especulação que rodeia a questão, Portas reagiu com um “isso é extraordinário”. “Estou a quatro dias de me candidatar a presidente do CDS” para “dois anos de mandato”, afirmou, considerando que, nesse contexto, “essas especulações sobre o 'pós qualquer coisa' parecem menos razoáveis”.

A escolha do novo comissário é uma responsabilidade do Governo, embora oficialmente em concertação com o novo presidente da Comissão, que será escolhido pelos líderes da União Europeia (UE) em Junho e votado pelo Parlamento Europeu um mês depois.

A eventualidade de Portas ser o futuro comissário português é invocada dentro do CDS no quadro de um “pacote” que envolveria uma aliança do partido com o PSD em listas conjuntas às eleições europeias de Maio deste ano e às legislativas de 2015. Se a elaboração de listas conjuntas para as europeias está assente, já para as legislativas, as coisas são menos claras, entre a afirmativa de Passos e as hesitações de Portas.

É precisamente esta ambiguidade do líder do CDS que gera uma possível ligação entre a sua eventual saída para Bruxelas e a aliança eleitoral: a lógica subjacente é que a elaboração de listas conjuntas será tanto mais facilitada quanto o CDS dispuser na altura de uma liderança mais fraca do que a actual, sabendo-se que se, se instalar em Bruxelas, Portas terá de abandonar os cargos partidários.

Segundo uma fonte do CDS, é neste contexto que a escolha de Portas para comissário já terá sido acordada entre o primeiro ministro e o número dois do Governo. O “negócio” está feito, garante.

Outros sectores do CDS recusam especular sobre a questão considerando, por um lado, a forte ligação de Portas ao partido e, por outro, a dificuldade que representaria a gestão da sua saída.

Mesmo assim, entre os defensores destas teses há quem admita que a saída do líder para Bruxelas poderá ser uma hipótese plausível, sobretudo à luz das fracas perspectivas que se apresentam para o seu futuro político em Portugal: depois de ter chegado a número dois do Governo, a ascensão de Portas está de facto “tapada” pelo facto de, enquanto chefe do partido minoritário na coligação, dificilmente poder chegar a primeiro ministro nos tempos mais próximos.

A presidência da República, que foi seriamente equacionada por Portas – e admitida como “uma possibilidade” por Pires de Lima, ministro (CDS) da economia, em entrevista ao PÚBLICO de quinta-feira - está por seu lado no limbo, garante uma fonte do partido. A razão tem a ver com a crise política de Julho do ano passado e da demissão “irrevogável” de Portas do Governo, que, segundo a convicção generalizada dentro do CDS, tornaria impossível a sua eleição em 2016.

Por essa razão, “não é um cenário tonto” e “politicamente tem lógica” a eventualidade de Portas partir em Julho para Bruxelas, construir uma credibilidade europeia - e, consequentemente, nacional - e regressar cinco anos depois à pátria para conquistar Belém em 2021, aos 59 anos, refere um fonte do CDS.

O afastamento de Portas do Governo seria por outro lado um alívio para alguns sectores do PSD, que consideram que o vice-primeiro ministro ganhou demasiada força dentro do Executivo, sobretudo por ter ficado com as pastas económicas e com a supervisão das Finanças, havendo mesmo quem refira que criou “um governo dentro do Governo”.

Mesmo assim, a nomeação do líder do CDS para Bruxelas não deixaria de agitar o PSD, na medida em que se trata de um cargo muito apetecível pelo estatuto e pelas oportunidades que abre, de tal forma que a sua entrega a outro partido seria vista pelos sociais-democratas como uma desconsideração.

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