Uma emissão de dívida com sucesso quase garantido

Taxas de juro a descer, procura alta dos investidores por dívida dos países periféricos e sucesso recente da Irlanda aumentam a confiança numa emissão de dívida a cinco anos bem sucedida.

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Passados oito meses de interregno, o tesouro português deverá regressar esta quinta-feira às emissões de dívida de longo prazo, numa operação que tem todos os ingredientes para atingir uma procura forte por parte dos investidores e uma taxa de juro próxima da que se pratica actualmente nos mercados e que é a mais baixa desde 2010.

O Governo decidiu aproveitar o ambiente positivo que se vive entre os investidores relativamente aos países da Europa periférica e apanhou a onda iniciada na terça-feira pela Irlanda quando esta realizou uma emissão de dívida a dez anos em que a procura superou quase quatro vezes a oferta. Logo ao início da tarde desta quarta-feira, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) anunciou que tinha contratado um sindicato bancário para gerir a emissão de títulos de dívida pública com um prazo de cinco anos. A operação deverá ser concretizada esta quinta-feira.

Seria difícil para o Governo deixar escapar esta oportunidade. Em primeiro lugar, porque está pressionado pelo tempo para concretizar um regresso aos mercados credível antes do final do actual programa da troika em Maio. Para mostrar aos parceiros europeus e ao BCE que consegue obter um acesso completo ao financiamento nos mercados (uma condição essencial para conseguir ter direito, por exemplo, a um programa cautelar), Portugal tem de realizar até meados deste ano operações regulares de colocação de dívida no longo prazo.

Depois porque as taxas de juro praticados pelos investidores quando trocam obrigações portuguesas entre si registaram uma descida bastante acentuada nas últimas semanas. Nos títulos a cinco anos (o que prazo a que será feita a nova emissão), as taxas de juro estiveram esta quarta-feira próximo dos 4%, algo a que não se assistia desde 2010. 

E, de facto, parece haver nesta fase um elevado apetite dos investidores por colocações de dívida pública dos países periféricos. A prova definitiva surgiu com os resultados da emissão irlandesa, com os responsáveis dos bancos que organizaram a operação a dizer que houve muita procura que ficou por satisfazer e que esta agora se teria de virar para outros países periféricos.

Por fim, outro sinal positivo veio da emissão de obrigações hipotecárias da Caixa Geral de Depósitos realizada na quarta-feira. Tal como tinha acontecido no ano passado quando o Estado fez a sua primeira emissão com a troika no país, o banco público antecipou-se com uma colocação de dívida no mercado, que é útil também para o Estado perceber qual o apetite dos investidores por títulos ligados ao sector público português. A CGD emitiu 750 milhões de euros de dívida a cinco anos, após uma procura de 3950 milhões, a uma taxa de juro de 3% (a taxa é mais baixa porque são obrigações hipotecárias, com uma garantia associada).

Ontem, numa declaração pública feita a propósito da visita a Portugal do secretário do Tesouro norte-americano, Jacob Lew, a ministra das Finanças disse que o os resultados da operação de troca de dívida realizada em Dezembro e a evolução das taxas de juro nos mercados "são indícios encorajadores", lembrando logo a seguir que uma emissão a cinco anos será agora realizada.

À espera de procura elevada
Esta quinta-feira, com o decorrer da emissão do tesouro, irá ficar a saber-se qual a procura registada, qual o montante de dívida que o Governo decide colocar e qual a taxa de juro obtida. Há um ano, quando o país realizou também uma emissão sindicada a cinco anos (a primeira realizada depois da chegada da troika), a procura foi de 12 mil milhões de euros, emitindo-se 2500 milhões de euros, a uma taxa de juro de 4,89%.

Espera-se que agora, o montante colocado seja semelhante (geralmente nas operações sindicadas este é o valor da emissão), enquanto as taxas de juro, tendo em conta os actuais valores praticados no mercado secundário, podem ficar um pouco mais baixas.

Uma coisa é certa, numa emissão sindicada (aquelas em que um grupo de bancos contratado pelo tesouro ajuda a colocar a dívida junto dos seus clientes), o Governo tem a possibilidade de apenas avançar se tiver uma garantia muito forte de que terá uma procura significativa a taxas de juro razoáveis. Os bancos conseguem, em antecipação, calcular a procura que existirá. Na operação desta quinta-feira, o sindicato bancário é constituído pela Caixa BI, Barclays, HSBC, Morgan Stanley, Goldman Sachs e Societé Générale, de acordo com o comunicado de ontem do IGCP.

Em leilões de dívida de longo prazo tradicionais (algo que Portugal já não realiza desde a chegada da troika), as hipóteses de controlo da operação por parte do tesouro são muito menores, não se conseguindo adivinhar em antecipação qual será a procura. Este é um tipo de operação que nem Portugal nem a Irlanda arriscam nesta fase. Quando o fizerem é porque finalmente confiam que o regresso aos mercados está assegurado.
 
 
 

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