Tiago Rodrigues, o cientista que estuda o diagnóstico do cancro

Em Cambridge, onde vive, Tiago Brandão Rodrigues estuda técnicas de detecção precoce do cancro. Fora de Portugal há 13 anos, este courense de 36 anos é a P3rsonalidade de 2013

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Tiago Brandão Rodrigues P3

Já viveu e estudou em Madrid e Dallas, no Texas, antes de se fixar em Cambridge, onde trabalha desde 2010: Tiago Brandão Rodrigues está fora de Portugal há 13 anos e dedica-se a estudar, em laboratório, técnicas de detecção precoce do cancro. Com 879 votos, o neurocientista português foi escolhido pelos leitores do P3 como a P3rsonalidade de 2013, ano em que a investigação da qual é o primeiro autor foi publicada na Nature Medicine.

Tiago foi capa de revistas e esteve em todos os telejornais portugueses, fez mais de 50 viagens para falar sobre o projecto, dar e assistir a palestras e cursos. Passou o Natal e o Ano Novo em Paredes de Coura, de onde é natural, mas não conseguiu descansar nem um bocadinho. “Estou mais cansado do que nunca mas feliz pelo facto de as pessoas estarem a dar importância à ciência”, confessa ao P3, um dia antes de regressar ao Reino Unido e à casa que partilha com mais dois portugueses naquela cidade universitária.

A nomeação para o prémio surpreendeu-o e o facto de cinco dos dez nomeados serem da área científica deixou-o ainda mais contente, por considerar que, por vezes, “a ciência é uma coisa tão lateral e periférica na sociedade e na opinião pública”. “Mesmo os trabalhos importantes ficam, muitas vezes, guardados para a própria comunidade científica, são discutidos internamente e não transparecem para a sociedade. E nós temos uma dívida para com a sociedade, uma vez que a maior parte do nosso financiamento vem dela, através do dinheiro dos contribuintes ou de filantropia”, reflecte o courense de 36 anos.

Com mais cinco investigadores do Cancer Research UK, Tiago procura “desenvolver novas metodologias — neste caso de ressonância magnética (RM) — para ver se um determinado tratamento funciona, ou não, numa fase precoce desse mesmo tratamento”. Essa é uma questão “extremamente importante”, defende. “Se entendermos que um tratamento não está a funcionar bem podemos reequacionar e recomeçá-lo sem efeitos secundários e sem custos psicológicos e físicos para o paciente”, diz. Tudo porque a nova técnica aumenta a sensibilidade de um equipamento de RM cerca de dez mil vezes.

“Mudança de paradigma” é a expressão que utiliza para descrever a abordagem utilizada. A partir de um dado conhecido “há aproximadamente 90 anos” — os tumores alimentam-se muito mais de glicose —, é possível “diferenciar o que é tecido tumoral, uma vez que consome muito mais deste açúcar do que o tecido normal”, explica. Nos próximos meses, a técnica “terá de ser testada, não só pré-clinicamente mas também em ensaio clínico”.

Voltar para Portugal “não é obsessão”

O ano que passou foi “muito particular” em termos de trabalho, mas foi em 2012 que Tiago cumpriu um dos sonhos de infância: ser parte integrante de uns Jogos Olímpicos. Em Londres, o neurocientista foi convidado para ser Adido Olímpico da Missão Portuguesa: viveu na Aldeia Olímpica, participou nas cerimónias de abertura e encerramento e assistiu a muitas provas. Naquele que descreve como “o maior acontecimento da civilização humana”, emocionou-se por várias vezes — sobretudo quando Fernando Pimenta e Emanuel Silva venceram a medalha de prata em canoagem (K2, 1000 metros).

Desde que saiu do país que Tiago não pára de somar histórias para contar. Foi apanhado pelo furacão Katrina em Cuba, assistiu aos atentados do 11 de Setembro de 2001 a partir de Dallas e vivia a poucos metros da estação de Atocha, em Madrid, quando explodiram as bombas da Al Qaeda. Por muito que viaje, contudo, continua a estar ligado a Paredes de Coura, concelho de onde saiu com 14 anos para ir estudar para Braga e onde tem a sua casa, “no sentido mais lato”.

Voltar para Portugal “não é algo que se tenha tornado uma obsessão”, garante Tiago, para quem “equacionar os próximos passos enquanto investigador” é o principal plano para 2014. “O caminho do cientista passa muito por novos desafios e oportunidades (…) e entender qual o melhor passo, o que nem sempre é fácil, é o maior de todos.”

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