Tuberculose aumenta pela primeira vez desde 2002 no Norte

Ainda é cedo para retirar conclusões, mas responsáveis avisam que no futuro poderá ser mais difícil controlar a doença na comunidade.

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nFactos/Fernando Veludo

Pela primeira vez numa década, o número de novos casos de tuberculose aumentou em 2012 no Norte, a região do país mais afectada pela doença. Apesar de o aumento ser ligeiro (1,5% face a 2011), a inversão da tendência de decréscimo que se verificava desde 2002 é destacada no relatório “A Tuberculose na Região de Saúde do Norte” que foi divulgado nesta terça-feira no portal da saúde.

“Não sabemos em que medida esta tendência registada em 2012 [mais 16 casos] reflecte uma melhoria da qualidade do sistema de vigilância, um aumento na detecção de casos ou um aumento do risco de contrair a doença”, ponderam os autores do documento. Mas deixam, desde logo, um aviso: “Se considerarmos a situação de crise socioeconómica que o país atravessa e o consequente agravamento dos determinantes sociais da tuberculose, é de prever que no futuro haja uma maior dificuldade de controlo da doença na comunidade”. Uma apreciação global dos principais indicadores da evolução da tuberculose na região “permite indiciar um eventual agravamento da situação epidemiológica da doença nos próximos anos”, acrescentam.

No total, na região Norte em 2012 foram diagnosticados 1080 casos, 83 dos quais foram retratamentos. O aumento face a 2011 aconteceu justamente  “à custa dos casos com localização pulmonar e dos retratamentos”,  acentuam os autores do relatório. O risco de contrair tuberculose está concentrado nas áreas urbanas, mas “em algumas regiões do interior a incidência de tuberculose tem-se mantido estável ou tem, até, aumentado”. 

Apesar de se mostrar “preocupada” com a situação, Ana Maria Correia, que é coordenadora do Programa de Luta contra a Tuberculose na Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, alerta que é preciso olhar para estes números com cautela. “Podem significar apenas que diagnosticamos mais casos e não que o risco de contrair a doença tenha aumentado”, explica, lembrando que a tuberculose é muitas vezes de diagnóstico tardio. 

Mas não poderá este constituir já um sinal dos efeitos da crise? “A crise até pode ter o efeito contrário. Por terem menos possibilidades, as pessoas recorrem mais tardiamente aos serviços de saúde, o que se reflecte numa falsa diminuição de incidência. Vamos ver o que aconteceu em 2013”, afirma, prudente. Ana Maria Correia recorda ainda que desde 2010 se observava já uma “lentificação” do decréscimo do número de novos casos de tuberculose – antes disso, a  diminuição da incidência da doença estava a acontecer ao ritmo de quase 5% ao ano. “Estamos com uma atenção redobrada”, garante.

Mesmo pedindo cautela na interpretação dos números, Ana Maria Correia não deixa de frisar que em tempos de crise é necessário “reforçar a resposta” e criar condições para que as pessoas continuem a ter acesso fácil aos serviços de saúde.

Uma necessidade que também aparece sublinhada no relatório agora divulgado. No actual contexto, sustentam os autores do documento, “é da maior importância manter ou até reforçar a resposta dos serviços de saúde ao problema da tuberculose, procurando colmatar os constrangimentos nos recursos humanos disponíveis”, nomeadamente “garantindo condições para que os doentes cumpram o tratamento até ao fim”.

Os últimos dados a nível nacional disponibilizados no final do ano passado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) indicavam que, em todo o país, a variação no número de casos de tuberculose tinha estabilizado em 2012 (2599, menos 0,5% do que em 2011). Apesar disso e do decréscimo constante verificado ao longo dos últimos anos, Portugal continua a ser um país de incidência intermédia, com uma taxa acima dos 20 por 100 mil habitantes. O relatório divulgado pela DGS recomendava aliás igualmente que se mantivesse a estabilidade e  assegurasse uma estratégia de desenvolvimento dos recursos humanos afectos ao Programa Nacional de Luta contra a Tuberculose. Chamava ainda a atenção para outro fenómeno, também destacado no documento da ARS do Norte: a tendência para a diminuição dos testes VIH nestes doentes. 
 
 

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