América do Norte enfrenta frio extremo, com temperaturas de até 50 graus negativos

Autoridades alertam para "risco de vida" em vaga de temperaturas baixas trazidas por vórtice polar.

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Frio glacial nos Estados Unidos vai manter-se até terça-feira Jim Young/Reuters
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Não está apenas frio, mas “perigosamente frio”. Em vários pontos dos Estados Unidos e do Canadá os termómetros desceram vertiginosamente desde domingo, atingindo recordes mínimos nalguns estados. Escolas foram encerradas, centenas de voos tiveram de ser cancelados, ruas e estradas ficaram desertas. Pelo menos 16 pessoas morreram nos últimos dias, em eventos relacionados com o frio – sobretudo acidentes de automóvel.

Com o vento polar a soprar do Norte, a sensação térmica chegou esta segunda-feira à casa dos 50 graus Celsius negativos nalguns locais, suficiente para congelar as partes expostas do corpo em cinco minutos. A agência meteorológica norte-americana (National Weather Service) não tem poupado nos seus alertas, avisando que tais temperaturas representam “risco de vida”. “Está mesmo perigosamente frio”, disse o meteorologista Butch Dye, citado pela Fox News.

O que está a congelar largas áreas da América do Norte é o vórtice polar, uma massa de ar muito frio que circula sobre o Árctico, na alta atmosfera. Por vezes, como agora, este ciclone deforma-se ou divide-se, e o ar polar acaba por se expandir para latitudes mais baixas, atingindo o Canadá e os Estados Unidos. A neve que tem caído no Midwest e Nordeste dos EUA nos últimos dias acentua o efeito. Com vastas áreas cobertas de branco, a radiação solar é reflectida, em vez de ser absorvida pela superfície terrestre. Com menos calor retido, as noites são ainda mais frias.

Uma imagem divulgada pelo National Weather Service através do Twitter, na madrugada desta segunda-feira (manhã em Lisboa), mostrava o Sul do Canadá, o Nordeste e o Midwest dos Estados Unidos com sensações térmicas entre menos 23 e menos 49 graus Celsius.

O principal conselho dado aos norte-americanos é para que permaneçam em ambientes fechados e, caso saiam, não poupem nas roupas. Douglas Brunette, um médico de um hospital de Minneapolis, disse que já tratou de pessoas com queimaduras causadas pelo frio mesmo através da roupa. “Não basta estar coberto. É preciso ter roupas próprias. É preciso repelir o vento”, alertou, citado pelo jornal britânico The Guardian.

No estado do Minnesota, todas as escolas públicas foram encerradas na segunda-feira. A mesma medida foi adoptada noutros estados ou em cidades como Chicago, onde foi batido o recorde de temperatura mínima em Janeiro. No aeroporto de O’Hare, os termómetros desceram aos 26 graus Celsius negativos. No domingo, a temperatura mais baixa registada nos Estados Unidos foi de 40 graus negativos, nas cidades de Babbitt e Embarrass, no Minnesota.

Com frio e neve em abundância, as autoridades apelaram aos condutores para evitarem tirar os carros da garagem. Em vários locais do estado de Indiana, só veículos de emergência foram autorizados a circular.

Nos aeroportos, o movimento já tinha sido afectado pela meteorologia no domingo, com 7300 voos atrasados e 3514 cancelados em todo o país. Na segunda-feira, pelo menos 400 voos foram cancelados só no aeroporto de Chicago.

No Canadá, 90.000 pessoas ficaram sem electricidade no domingo na Terra Nova. O abastecimento foi parcialmente restabelecido na segunda-feira, com os funcionários das empresas de electricidade a trabalharem sob condições glaciais.

Muitas pessoas acorreram às lojas e supermercados, para comprar luvas, cachecóis e outras roupas para o frio, além de mantimentos. “A secção de batatas fritas foi dizimada”, disse à Reuters a proprietária de um supermercado em Clintonville, Ohio. “Parece que todos planeiam estar sentados durante dois dias, a comer snacks”.

Segundo o National Weather Service, o frio intenso deverá durar até esta terça-feira. As temperaturas subirão para patamares menos rigorosos ao longo da semana.

Entretanto, na Europa, há zonas que continuam a ser fustigadas pelo mau tempo, sobretudo o Reino Unido. Na segunda-feira, as autoridades britânicas mantinham 108 alertas de cheias, praticamente em todo o território da Inglaterra e do País de Gales. O Reino Unido tem sido afectado sobretudo por cheias, devido à combinação de chuvas com forte ondulação e uma sobrelevação do mar, em função do mau tempo.

Segundo Ricardo Trigo, meteorologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, o mau tempo na Europa está de alguma forma relacionado com o da América do Norte. As tempestades são transportadas pela corrente de jacto da atmosfera e são realimentadas pela energia da evaporação sobre o oceano Atlântico, transformando-se em novas frentes de nuvens, chuvas e vento na Europa. “Em três dias, estão cá”, diz o investigador.

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