Quatro mortos em protesto por salários mais altos no Camboja

No parque industrial da capital cambojana é produzida roupa para a Adidas, Puma e H&M.

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Manifestante ferido após confrontos com a polícia Tang Chhin Sothy/AFP

Trabalhadores do sector do vestuário do Camboja estão em greve por todo o país desde quinta-feira, pedindo uma subida de salários, mas estam sexta-feira a tensão subiu quando a polícia quis impedir uma manifestação de milhares de trabalhadores numa zona industrial da capital, Phnom Penh.

Os manifestantes recusaram sair do local e atiraram garrafas, pedras e cocktails Molotov. A polícia militar respondeu com tiros e usou munições reais – jornalistas da Reuters viram os cartuchos vazios no chão do parque industrial da cidade, em que fábricas fazem roupa para marcas como a Adidas, a Puma ou a H&M. Os manifestantes incendiaram ainda automóveis e uma clínica que diziam estar a recusar tratar os feridos.

O confronto marca um desafio à autoridade do primeiro-ministro, Hun Sen – os manifestantes começam a juntar-se aos opositores que acusam o Governo de ser autoritário e que pedem a repetição das eleições de Julho, que dizem ter sido fraudulentas. Já na quinta-feira tinha havido violência numa acção policial noutra fábrica, que faz roupa para os grupos norte-americanos GAP e Walmart, quando polícia armada com bastões causou ferimentos a 20 pessoas.

A indústria do vestuário é uma grande força na economia do país, e muitas marcas ocidentais fazem outsourcing em fábricas cambojanas por o trabalho ser mais barato do que na China, Vietname ou Tailândia.

O principal partido da oposição, Partido Nacional da Salvação do Camboja, tem estado a pedir novas eleições, e o partido tem vindo a cortejar trabalhadores do sector do vestuário de cerca de 500 fábricas, prometendo duplicar o salário mínimo para 160 dólares (117 euros), se vencer as eleições. A oposição, tradicionalmente fragmentada, juntou-se o ano passado numa coligação que juntou votos de cambojanos descontentes.

É um raro desafio a Hun Sen e ao seu Partido do Povo do Camboja, que governa há 28 anos. O primeiro-ministro tem recebido crédito por atrair investimento num país que era um Estado falhado após a sangrenta época dos Khmer Vermelhos, e tem sido criticado por repressão à oposição e abusos de direitos humanos.