Incêndio destruiu valiosa pintura de Josefa de Óbidos

Pintura pode valer mais de 40 mil euros. Especialista diz que é uma perda irreparável para o património português.

Foto
A Sagrada Família destruída pelo incêndio

Um incêndio no Convento do Buçaco destruiu uma obra da pintora portuguesa Josefa de Óbidos, uma Sagrada Família datada de 1664.

O incêndio que consumiu esta tela barroca deu-se na noite de Natal, a 24 de Dezembro, e terá sido causado por um curto-circuito na instalação eléctrica da igreja.

A Fundação Mata do Buçaco lamentou em comunicado esta sexta-feira "a perda de uma obra única, num acontecimento imprevisível". O comunicado acrescenta que a pintura "é um dos mais valiosos quadros de arte sacra existentes no Convento de Santa Cruz do Buçaco e ficou totalmente destruída após o incêndio" que deflagrou na capela lateral da igreja. O património do Convento do Buçaco pertence ao Estado português e a sua gestão está nas mãos da fundação desde 2009.

Para o historiador de arte Vítor Serrão, que em 1991 organizou uma exposição sobre a pintora no Palácio da Ajuda, em Lisboa, com a destruição da Sagrada Família fica "um buraco negro no contexto da obra de Josefa de Óbidos". A pintura, numa estimativa muito por alto, valerá "no mínimo" 40 mil euros, uma vez que uma Natividade foi vendida por um valor semelhante pela leiloeira Cabral Moncada ainda este ano.

Já a leiloeira do Correio Velho exibe uma natureza-morta da pintora entre os seus recordes de vendas, tendo o martelo batido nos 166 mil euros. "É uma perda irreparável para o país e uma prova que as obras de arte também morrem. Em termos de património português é uma grande perda", disse ao PÚBLICO Vítor Serrão. "Esta é a primeira de um grande conjunto de telas maiores onde a artista vai desenvolver um reportório estilístico extremamente individual nos modelos, no tratamento dos panejamentos ou nas glórias angelicais." Este historiador de arte diz ainda que o culminar dessa série é o retábulo que fez para o Convento de Carmelitas Descalças de Cascais e que hoje está na igreja matriz da vila.

O novo presidente da Câmara da Mealhada, Rui Marqueiro, lamentou ao Jornal de Notícias "a tremenda perda patrimonial" e a falta de acção do Estado, da autarquia ou da Fundação da Mata do Buçaco. No mesmo comunicado, a Fundação da Mata do Buçaco informava ainda que "tomou todas as providências junto das autoridades e está já a desenvolver um plano de recuperação do local, apesar dos danos irreparáveis". Estão a decorrer investigações, continua o documento, para apurar a origem do incêndio.

Até ao momento, não foi possível saber junto da Fundação da Mata do Buçaco e da Secretaria de Estado da Cultura se o acordo celebrado entre as duas partes prevê alguma compensação no caso da destruição de património à guarda da fundação.
 
 
 
 
 
 

Sugerir correcção
Comentar