Morreu Manuel Seabra, o deputado que “vai fazer muita falta” ao PS

Ex-deputado chegou a assumir a presidência da Câmara de Matosinhos e foi chefe de gabinete de António Costa que, em 2008, o convidou para ir para Lisboa para trabalhar com ele.

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Manuel Seabra durante uma comissão parlamentar de inquérito Nuno Ferreira Santos

Manuel Seabra, considerado um dos melhores políticos da sua geração, morreu quarta-feira, aos 51 anos, no Instituto Português de Oncologia do Porto, onde em Junho passado foi submetido a um transplante de medula.

A notícia da sua morte correu célere e alguns dos seus amigos não perderam tempo a expressar a sua dor nas redes sociais. “Morreu o Manuel Seabra, um político jovem talentoso e solidário, um Homem encantador, corajoso, determinado e bem-humorado. Um dos melhores da nossa geração e um amigo inquebrantável”, escreveu o ex-deputado e actual vereador do PS da Câmara do Porto, Manuel Pizarro, na sua página no Facebook.

“Lutou com todas as forças contra a doença que o haveria de vitimar [um cancro]. Vai fazer-nos falta a todos, muita falta”, acrescentou. Ao PÚBLICO, o ex-deputado elogiou o lado mais intelectual do amigo, a sua formação académica “muito sólida” e as suas qualidades pessoais. “Por todos os sítios onde passou, Câmara de Matosinhos, Câmara de Lisboa e Assembleia da República, deixou uma quantidade enorme de amigos e admiradores por causa das suas qualidades pessoais e pela sua qualificação política”, declarou o líder da concelhia do PS/Porto.

Também Isabel dos Santos, deputada da bancada socialista, comentou a precoce partida de Seabra. “Há acontecimentos a que todos gostávamos de não assistir”, escreveu a deputada no Facebook, afirmando que “a partida precoce de Manuel Seabra acaba de silenciar todas as palavras”.

Licenciado em Direito e advogado de profissão, Manuel José de Faria Seabra Monteiro, iniciou a sua carreia política na Juventude Socialista, tendo integrado o Secretariado Nacional deste órgão quando António José Seguro liderava a JS. A sua amizade com o actual secretário-geral do PS conhece, todavia, um revés quando decide apoiar Francisco Assis na disputa pela liderança do partido contra Seguro.

Mas o grande abalo na relação entre os dois acontece quando António Costa decide convidar Manuel Seabra para seu chefe de gabinete na Câmara de Lisboa. Desgastado com os incidentes na lota de Matosinhos, numa acção de campanha para as eleições europeias, em 2004, e que ocorreram momentos antes de o cabeça de lista do PS, Sousa Franco, morrer, o ex-vice-presidente da câmara decide aceitar o convite de Costa e desta forma reabilita-se politicamente.

Numa mensagem enviada às redacções, Seguro já lamentou a morte de um "lutador a vida inteira" que se dedicou ao serviço público e à política. "Conheci o Manuel Seabra nos tempos de juventude, onde construímos uma forte amizade, assente num ideal que partilhávamos e ambicionávamos para o nosso país. Nós e mais alguns amigos que hoje partilhamos a tristeza pela sua partida tão prematura", escreveu.

Os incidentes na lota de Matosinhos, nos quais estiveram envolvidas facções rivais do PS, deram origem à abertura de um inquérito interno, que determinou que Narciso Miranda, na altura presidente da câmara, e Manuel Seabra, líder da concelhia, não se poderiam candidatar às eleições autárquicas de 2005 pelo partido. Porém, a sanção mais pesada foi para António Parada. A direcção nacional do PS determinou a sua expulsão, mas Parada nunca chegou a ser expulso, e nas recentes eleições locais encabeçou a lista do PS a Matosinhos, com o apoio do secretário-geral.

Em 1988, Seabra ingressa na câmara onde foi vereador do Urbanismo, a partir de 1994, e mais tarde vice-presidente. Com a saída de Narciso Miranda para o Governo, assume a presidência da câmara. As relações entre eles deterioram-se com o regresso de Narciso à câmara, em Setembro de 2000, e a ruptura entre os dois consolida-se na sequência dos incidentes da lota, em 2004.

Nessa altura, Seara entrega os pelouros e regressa à advocacia até que, em 2008, António Costa o convida. Um ano depois integra a lista de deputados pelo Porto para o Parlamento, tendo integrado diversas comissões parlamentares. Em Junho suspendeu o mandato e foi substituído por João Paulo, actual presidente da Junta de Mafamude.

O corpo de Manuel Seabra será cremado esta quinta-feira, pelas 16h, no tanatório junto do cemitério de Matosinhos.

Notícia actualizada às 18h22: acrescenta mensagem do líder do PS, António José Seguro


 

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