O que mudou no Porto em 2013, para além da presidência da câmara

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Em Abril foi demolida uma segunda torre das cinco que compunham o Bairro do Aleixo Paulo Pimenta
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A Torre dos Clérigos fez 250 anos e vai ser recuperada, o Passeio dos Clérigos foi inaugurado Adelaide Carneiro
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Acordo extrajudicial do Parque da Cidade custou 50 milhões, mas ficou tudo pago Paulo Pimenta
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Desentendimento entre a APEL e a câmara deixaram o Porto sem Feira do Livro em 2013 Manuel Roberto
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A companhia Seiva Trupe foi despejada do Teatro do Campo Alegre pelo anterior executivo após as eleições autárquicas Dato Daraselia
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O Mercado do Bom Sucesso foi convertido num centro comercial Paulo Pimenta

O Porto mudou em 2013. Foi um ano de despejos, de eventos que pareciam perenes e que desapareceram e de outros que se podem ter despedido, pelo menos nos moldes em que os conhecíamos.

Ao longo dos últimos doze meses, houve dossiers antigos que se fecharam e outros que se tornaram ainda mais complexos, arrastando-se, incertos, em direcção a 2014. A cidade assistiu à reabertura de espaços que pareciam perdidos e ao desaparecimento definitivo de mais um pequeno pedaço da sua paisagem urbana. Viu antigos mercados reinventarem-se e outros a definhar um pouco mais. Foi um ano de despedidas e de boas-vindas. E tempo de dar os parabéns ao mais icónico dos monumentos do Porto.

Despejos. O primeiro mandato de Rui Rio já tinha ficado muito associado aos “despejos”, sobretudo por causa do processo de demolição do Bairro de S. João de Deus. Poder-se-ia pensar que, ao fim de 12 anos a gerir a câmara, Rio não sairia da autarquia com a mesma palavra a persegui-lo, mas foi o que aconteceu. E com uma dimensão nova. No seu último ano de mandato, "despejo" já não significou apenas retirar moradores das casas em que habitavam – como aconteceu, de forma criticada à esquerda e à direita, no Bairro do Nicolau, no final de Julho. 2013 ficará na memória de muitos como o ano em que o autarca, a dias de abandonar a presidência da Câmara do Porto, mandou despejar a companhia Seiva Trupe do Teatro do Campo Alegre. A entrada do novo executivo na câmara não fez reverter esta decisão, depois de um período de negociações sem qualquer resultado. A companhia entra assim, em 2014, desalojada.

Eventos. Em 2013 houve Circuito da Boavista e não houve Feira do Livro. Do primeiro, fica a dúvida sobre se regressa. E, se regressar, em que moldes será? O evento, renascido pela mão de Rui Rio e, inicialmente, muito criticado pela oposição, acabou por ganhar o seu espaço, atraindo milhares de entusiastas. Resta saber se viveu tempo suficiente para que o novo executivo o veja já como um marco indispensável da cidade ou se Rui Moreira o deixará cair. Já a Feira do Livro não se realizou pela primeira vez no Porto, depois de um braço-de-ferro entre a autarquia e a APEL. A cidade gosta da sua Feira do Livro e não houve voz que tenha dito que passaria melhor sem ela. Em 2014 se saberá se 2013 foi “o ano” em que não houve Feira do Livro no Porto ou apenas o primeiro ano em que tal aconteceu.

Dossiers problemáticos. Rui Rio carregou às costas, durante os três mandatos, a decisão de não permitir construções na frente da Circunvalação do Parque da Cidade, mas recusou-se a abandonar a câmara sem fechar o polémico dossier. O autarca perdeu processos relativos ao parque em tribunal e, para não arriscar perder os que ainda estavam pendentes, fez um acordo extrajudicial. Não conseguiu vender os terrenos e prédios que deveriam dotar a autarquia da verba necessária para pagar os cerca de 50 milhões de indemnização aos promotores do parque, mas pagou tudo antes de sair, recorrendo ao orçamento municipal. O outro dossier que desgastou o autarca nos últimos tempos foi o da Sociedade de Reabilitação Urbana, mas esse Rio não conseguiu fechar antes de partir. O verdadeiro braço-de-ferro com o Governo durou o ano todo e o Porto entra em 2014 sem saber como será (ou se terá) a reabilitação urbana. E com ou sem SRU? Rui Moreira, que já presidiu à sociedade, vai continuar a batalha com o Governo.

Reaberturas e desaparecimentos. A 12 de Abril a paisagem urbana do Porto voltou a mudar, com a implosão de mais uma torre no Bairro do Aleixo. Foi o segundo dos cinco edifícios habitacionais do bairro a desaparecer, num processo que parece ser irreversível, mas sobre o qual o novo presidente da câmara ainda não se pronunciou. Mas, para a cidade, este não foi apenas o ano de desaparecimentos de edifícios. Ao fim de quase dez anos de inutilidade, a Casa das Artes reabriu. O Porto volta a ter uma sala onde ver cinema.

Mercados. 2013 ainda não foi o ano em que o Mercado do Bolhão foi reabilitado. Foi antes o ano em que Rui Rio desistiu de fazer os pequenos arranjos que prometera, depois de três mandatos sem conseguir concretizar qualquer projecto de reabilitação. A chegada de Rui Moreira à presidência não trouxe, para já, qualquer garantia de vida nova para o espaço. Já para o Mercado do Bom Sucesso, este foi o ano da reabertura, já não como mercado, mas como um centro comercial, com um hotel incorporado. Rui Rio ainda foi a tempo de inaugurar o espaço, mas já deixou para Rui Moreira a inauguração oficial de outro projecto que acompanhara grande parte da sua presidência de câmara – a inauguração do Passeio dos Clérigos, a nova rua que cortou a antiga Praça de Lisboa.

Parabéns. A Torre dos Clérigos faz 250 anos em 2013 e todo o ano foi passado a celebrar o aniversário. O icónico edifício de Nicolau Nasoni viu aumentar o número de visitantes, teve direito a chocolates e sabonetes em sua honra. Contudo, a prenda final, a reabilitação do interior da estrutura composta pela torre, igreja e a antiga enfermaria, só deverá surgir no próximo ano, mas já tem financiamento e as obras arrancaram. Boas notícias, em tempo de crise.

Adeus e olá. Podíamos ter começado por aqui, mas preferimos terminar. 2013 foi o ano em que o Porto disse adeus a Rui Rio e olá a Rui Moreira. Os próximos anos vão mostrar o que esta transição significou para a cidade.
 
 
 
 
 

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