Escolas superiores de educação respondem a Crato e vão mostrar que não vendem “gato por lebre”

Reunião em Coimbra juntou representantes das ESE e presidentes de instituto politécnicos. Exigem pedido de desculpas de Nuno Crato e ameaçam com outras acções

Foto
Escola Superior de Educação de Coimba, onde decorreu a reunião esta manhã promovida pela ARIPESE (foto de arquivo) Fernando Veludo

Dez dos 15 presidentes de institutos politécnicos do país compareceram nesta sexta-feira numa reunião na Escola Superior de Educação (ESE) de Coimbra, promovida pela Associação de Reflexão e Intervenção na Política Educativa das Escolas Superiores de Educação (ARIPESE). Objectivo: exigir formalmente ao ministro da Educação Nuno Crato um pedido de desculpa. E discutir acções para as próximas semanas.

Em causa estão ainda as declarações do ministro numa entrevista no dia 18, à RTP1. Crato afirmou que o sistema de formação de professores “tem várias falhas”. E que “há professores licenciados por universidades e há professores licenciados por escolas superiores de educação [do ensino politécnico] que têm características diferentes e critérios de exigência muito diferentes”. As declarações levaram o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) a pedir a demissão do ministro. E o ministério a emitir, por duas vezes, e por escrito, esclarecimentos, sublinhando que não discriminou ninguém e pedindo a colaboração de todos para melhorar a formação dos professores

Na reunião desta sexta-feira, em Coimbra, promovida pela ARIPESE, ficou decidido que já em Janeiro serão lançadas uma série de acções para mostrar o que têm feito estes estabelecimentos “e a qualidade do que tem sido feito”, disse ao PÚBLICO Rui Matos, presidente da associação. Isto porque, sustenta Matos, há um desconhecimento do trabalho destas instituições.

A primeira acção consiste numa palestra, a realizar no dia 16, em cada escola do país. “Vamos explicar o que fazemos, desde 1979, e com que qualidade, com números e dados sobre os professores que formámos.” As ESE não desistem, de resto, de exigir um pedido de desculpa formal do governante. “O ministro não pode dizer o que disse e deixar a ideia, sobretudo aos pais dos alunos, que quando se escolhe uma ESE se está a comprar gato por lebre”.

A ARIPESE já tinha emitido um comunicado onde dizia que considerava “muito grave que o ministro que tutela o ensino superior não incentive globalmente o seu desenvolvimento, lance para a opinião pública a dúvida sobre a qualidade da formação que as instituições ministram, sem dados concretos que o sustentem”.

Ontem, em declarações ao PÚBLICO, Rui Matos dizia que era quase inevitável que da reunião de hoje saísse um pedido de demissão do ministro. Contudo, durante a reunião decidiu-se suavizar a mensagem.

Hoje, segundo a Lusa, Matos disse no final do encontro em Coimbra que afinal a associação não faz "finca-pé" no pedido de demissão do governante. Os presentes acordaram que iriam subscrever a carta do CCISP, onde se defende a demissão de Crato, mas não a pediriam directamente. Exigiriam, isso sim, um pedido de desculpa.

Caso o ministro não peça desculpa, as ESE ponderam outro tipo de acções, que Rui Matos não revela. Diz que, para já, vão optar por “acções construtivas”. Durante a tarde a ARIPESE emitiu um comunicado sobre o assunto.

A última vez que o ministério da Educação enviou uma nota às redacções sobre o tema foi no sábado, depois da carta do CCISP ao primeiro-ministro, onde se defendia a demissão de Crato. O ministério fez saber que o pedido de demissão era “completamente incompreensível”. E que o ministro, nas declarações à RTP, “se referia ao conjunto do sistema de formação inicial de professores, que tem programas curriculares diversos, dizendo que há diferenças entre as diversas escolas de formação de professores, sejam universitárias sejam politécnicas, referindo ‘essas escolas’ no seu conjunto, e sem fazer juízos de qualidade que distinguissem escolas politécnicas por um lado e universitárias por outro”.

Notícia actualizada às 19h00 com declarações de Rui Matos à Lusa

Sugerir correcção
Comentar