Um conto de Natal, muito pequenino

De acordo com a tradição naquela família, ao fim da noite de Natal chegava o momento mais aguardado, sobretudo pelos miúdos, a abertura dos presentes que estavam empilhados em grande número ao pé da árvore de Natal, ao lado do presépio.

Como também era habitual e devido à impaciência da espera, os mais novos eram sempre os primeiros a receber a generosidade do Pai Natal.

Assim, o Francisco, com a autoridade dos seus oito anos, começou ansiosamente a desembrulhar os muitos presentes que lhe estavam destinados. A cada um rapidamente desembrulhado a euforia aumentava. Ficou delirante com o telemóvel que desejava de desde que há semanas tinha sido posto à venda e vibrou com a consola nova que os pais lhe ofereceram. Não fosse a vontade de conhecer o resto das prendas, já não largaria os novos companheiros o resto da noite.

Recebeu ainda um portátil mais pequeno e mais recente do que já tinha, uma série de videojogos já adaptados à nova consola e muitas outras prendas, várias peças de roupa, por exemplo, que, embora gostasse, era o que lhe interessava menos, a mãe comprava sempre o que ele escolhia.

O Francisco estava verdadeiramente nas nuvens ou, por assim dizer, completamente submerso pelo espírito natalício.

Por fim, apenas restava por abrir o presente do Avô Velho, um embrulho pequeno e discreto. O Francisco, com a agitação ao alto, abriu-o e mostrou um caderninho de capa dura e bege que tinha escrito na capa com a letra certinha e redonda do Avô Velho "As minhas histórias". O Francisco deitou-lhe um olhar rápido e pousou-o num canto onde ficou o resto da noite.

Depois de toda a gente ter partido para descansar do espírito natalício, o Avô Velho ainda ficou mais um pouco na sala, releu duas ou três das suas histórias e percebeu que já não era deste mundo.

Devagarinho, para não acordar ninguém, enfiou-se pela chaminé e partiu. 

Sugerir correcção
Comentar