O online enriquece ou empobrece o jornalismo?

Alguns leitores reagem ao facto de terem de pagar o PÚBLICO digital. Outros suspeitam que o uso total do online possa “trazer” maior dificuldade em manter equilibrada a linha editorial prosseguida pelo jornal.

O novo sistema de pagamento de conteúdos digitais introduzido pelo PÚBLICO a partir do passado dia 14 de Novembro tem suscitado por parte de alguns leitores diversos comentários. Em regra, tenho enviado esses comentários para a direcção do PÚBLICO. Segundo entendo, esta questão não diz respeito ao provedor. Cabe à direcção e à administração avaliar as implicações e os resultados desta opção. Todavia, algumas dessas reacções sugerem-me assunto para o texto de hoje.

Recolhi, especialmente, reflexões de dois tipos: 1) De decepção: Alguns leitores reagem ao facto de terem de pagar o PÚBLICO digital. 2) Outros suspeitam que o uso total do online possa “trazer” ao jornalismo praticado pelo PÚBLICO maior dificuldade em manter equilibrada a linha editorial prosseguida pelo jornal.

1. Em relação ao sentimento de decepção, destaco esta reacção de um leitor assim expressa: “Serve a presente para me despedir do jornal Público. Sou leitor assíduo, tanto da edição online (numa base diária nos últimos 7 anos) e da edição em papel (quando o tempo e os fins de semana assim o permitem). Não obstante, não posso deixar de mostrar o meu desagrado por este sistema “pago” para poder aceder à informação. Não que concorde com o conceito de gratuidade pelo trabalho dos outros mas, neste caso, parece-me que o Público quer ficar com uma “dupla tributação” pelos seus serviços.”… “Posto isto, e por forma a mostrar a minha indignação… informo que, lamentavelmente, perderei o meu Público, assim como o Público perderá as minhas receitas… com a venda de uma “autorização para ler mais”. Lá diz o outro: quem tudo quer, tudo perde”.

Tanto quanto percebo, este Leitor lia o PÚBLICO, de fio a pavio, sob os dois suportes, o do papel e o do digital. Porventura, cumpria, religiosamente, aqueles dois papéis de que falam os técnicos desta matéria: “leitor ligeiro” e “leitor pesado”. Uma primeira leitura com recurso ao digital e uma segunda, mais reflexiva, sobre o jornal papel. Ora, o novo sistema não interdita o Leitor de continuar a ler o PÚBLICO sob as duas formas (papel e digital). Obriga-o, isso sim, caso queira ter ao seu dispor os dois suportes, a subscrever a assinatura dos conteúdos em digital. E isto, se quer ir para além da leitura, em formato digital, de 20 textos gratuitamente disponibilizados no cômputo de um mês.

A partir dos anos setenta do século XX, o fantástico desenvolvimento das novas tecnologias abriu caminhos infindáveis ao campo da informação e da comunicação. As novas tecnologias da informação, muito especialmente com a introdução e estandardização da Internet, criaram sistemas de veiculação da informação que nos passou a chegar pelos mais diferentes meios e modos. Os benefícios desta “era da comunicação” foram e são incalculáveis. Porém, de algum modo, fizeram-nos perder o valor/custo/preço da informação. A produção de conteúdos seja para o papel, seja para o digital, tem tido um custo mal calculado, pelos próprios produtores e pelo público em geral. No que se refere aos jornais, eles próprios, numa primeira fase, concorreram para criar esta percepção. Essa fase correspondeu quase e tão só a uma transposição de resumos dos conteúdos escritos no papel impresso para as páginas online desses mesmos jornais. Uma simplificação, em regra, deficiente e desprovida dos requisitos próprios ao digital. Passada essa fase, os jornais configuraram novas estratégias que, ao contrário, do que possa parecer não têm apenas a ver com a crise que afecta, drasticamente, as tiragens e respectivas audiências do jornal/ papel. Em todo o mundo, e com forte incidência no nosso país, cronicamente, com padrões de leitura de jornais muito baixa. Porém, eu não entendo a nova estratégia dos jornais digitais apenas como forma de fazer frente à crise económica e financeira. Tem a ver, fundamentalmente, com estes três factores: a) inegavelmente, como processo de fazer frente à crise em vendas ou assinaturas de jornais e da escassez de inserção publicitária, fontes da sustentabilidade dos jornais (real factor da crise); b) compatibilização com a procura de novos leitores numa população com novas gerações mais alfabetizadas e de alargada literacia digital (factor cultural); c) uma visão estratégica de oferta global numa internacionalização que pode advir, como no caso português, pelos portugueses espalhados pelo mundo ou cidadãos do espaço lusófono. O êxito de um projecto de um jornal digital só pode resultar da combinação destes três factores. Se a estratégia se esgotar apenas no primeiro (colmatar a crise das quedas do jornal/ papel), não creio que um plano deste tipo tenha futuro assegurado. A visão a ter sobre esta problemática do futuro dos jornais, suportes de informação, organizada e com especiais normas e responsabilidade, ultrapassa obviamente a perspectiva que se possa ter a propósito da globalização da informação facilmente difundida e /ou “consumida” através das redes sociais (facebook, twiter,etc.) por meios tão acessíveis e tão generalizados como um simples telemóvel,  ou um  qualquer tablet.  No contexto destas minhas considerações, o que está presente, é o jornalismo. O jornalismo de hoje e do próximo futuro.

2. O segundo ponto rebatido por alguns outros leitores bate em cheio nas questões que se colocam ao jornalismo na sua versão suporte papel ou na sua versão suporte digital.

Mas sobre este ponto, e não querendo por hoje alongar-me, terei de opinar noutra ocasião. Ou melhor, sobre esta questão da eventual perda de qualidade ou da quebra dos compromissos editoriais, o que posso prometer ao Leitor é que, como provedor procurarei estar atento. De facto, o online, em princípio “liberta” o espaço. A produção dos seus conteúdos tem um processo muito mais acelerado, mais desenquadrado do ambiente específico dos receptores/leitores, localmente dispersos e de percepções culturais diferentes e distintas. Por isso, o jornalismo em suporte digital exige redobrado rigor, apurada responsabilidade dos produtores de tais conteúdos, e dos directores e editores que “fazem” esse jornal. O jornalismo digital credível, responsável, coerente, socialmente comprometido, não dispensa o cumprimento de valores éticos e deontológicos.

 

JORNALISMO:

VERDADE, VERACIDADE E OBJECTIVIDADE

"A VERDADE na informação é uma componente ética e técnica iniludível. Porém, como todo o valor absoluto, de difícil cumprimento numa actividade sujeita a pressões de diferentes grupos e oscilante entre variadas formas de entender a realidade".

VERACIDADE: "A verdade, em sentido moral, é a veracidade. Não há que confundir verdade com veracidade; esta última é a qualidade moral do informador que informa verdadeiramente, algo que o jornalista pratica, não por obrigação jurídica, mas sim por honestidade pessoal".

"A OBJECTIVIDADE é um empenho de quem informa, para ver, compreender e divulgar um acontecimento tal como é e como se produz no seu ambiente e contexto, prescindindo das preferências, interesses e posturas próprias".

J.J. VIDELA RODRÍGUEZ, in La ética como fundamento de la actividad periodística, Madrid, Editora Fragua, 2006

 

DO CORREIO LEITOR/PROVEDOR

Pequenos Exemplos:

Uma Leitora, devidamente identificada, escreve ao provedor:

«Que é feito das crónicas CONSOANTEMUDA, de Rui Tavares, publicadas às segundas e quartas-feiras?

Nem quero acreditar que foram suprimidas com o argumento de que ele está a liderar o processo de constituição de um partido político».

O provedor responde:

«Tanto quanto leio, hoje, (18.12.13), em nota do PÚBLICO na página (última do jornal), «Rui Tavares encontra-se de férias e regressa a este espaço a 15 de Janeiro».

A Leitora agradece:

«Muito obrigada por esta chamada de atenção. Fico bem mais descansada»

Nota: O provedor escrevera sobre este assunto relacionado com o colaborador Rui Tavares no PÚBLICO de 15.12.2013.

 
 

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