Papa Francisco pede “profissionalismo” à Cúria romana

Na primeira mensagem de Natal dirigida ao Governo do Vaticano, o Papa traçou o perfil que devem ter os seus membros.

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Primeiro discurso de Natal do Papa Francisco era muito aguardado na Cúria AFP PHOTO POOL/CLAUDIO PERI

O Papa Francisco pediu neste sábado aos membros da Cúria Romana que mostrem "profissionalismo" e sejam “objectores de consciência" à intriga. “Quando não há profissionalismo, lentamente vai-se escorregando para o nível da mediocridade”, alertou o Santo Padre, na sua primeira mensagem de Natal dirigida ao organismo central administrativo do Vaticano.

Falando para os cardeais, bispos, monsenhores e para os restantes funcionários dos vários departamentos do Vaticano, na sala Clementina do Palácio Apostólico, o Papa Francisco traçou o perfil que devem ter os membros da Cúria. Por um lado, o “profissionalismo”, um requisito que considera "fundamental" para trabalhar neste organismo.

Quando não há profissionalismo, “a resolução dos casos reduz-se a informações estereotipadas e comunicações sem fermento de vida, incapazes de gerar horizontes grandes”, afirmou. Destacou ainda a vocação do "serviço" à Igreja, sem o qual “cresce a estrutura da Cúria como uma alfândega pesadamente burocrática, inspectora e inquisidora, que não permite a acção do Espírito Santo e o crescimento do povo de Deus”.

Outra qualidade, "a mais importante na hierarquia dos valores", segundo o Papa, é a "santidade", que implica " "profunda humildade" e "amor fraterno nas relações com os colegas". Santidade significa também “objecção de consciência" à intriga, disse ainda o Papa. “Nós, justamente, insistimos muito sobre o valor da objecção de consciência, mas talvez devamos exercitá-la também para nos defendermos de uma lei não escrita que, infelizmente, existe nos nossos ambientes: a das murmurações”, afirmou, acrescentando que estas “lesam a qualidade das pessoas, lesam a qualidade do trabalho e do ambiente”.

Quando foi eleito Papa em Março, para substituir Bento XVI, Francisco encontrou a estrutura da Cúria  envolta em suspeitas de corrupção e abalada pelo escândalo do "Vatileaks", relacionado com a fuga de informação de documentos secretos do Vaticano. Pouco depois de assumir o lugar, o Papa argentino reconheceu a existência de um lobby gay no seio do Vaticano, que terá chantageado membros da mais alta hierarquia da Igreja, e ao qual estará associada a renúncia de Bento XVII, segundo avançou o diário italiano La Repubblica.

Francisco assumiu a reforma da estrutura central da Igreja Católica como uma prioridade no seu mandato, tendo mesmo nomeado uma comissão de oito cardeais para se aconselhar sobre as medidas a tomar.

Em Novembro, a Santa Sé anunciou também que foi nomeada a empresa de consultoria Ernst & Young  para “assessorar e fiscalizar" as actividades económicas e os "processos de gestão” do Governo do Vaticano, depois dos escândalos envolvendo o Instituto das Obras da Religião (Banco do Vaticano).

Critica à "cultura do descartável"
Neste sábado foi também divulgado um vídeo no qual o Papa Francisco critica a "cultura do descartável" e destaca o papel dos homens e mulheres que andam pelas ruas na recolha de cartões e de outro material reciclável. "Não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar o que sobra. Estamos a viver uma cultura do descartável, onde facilmente fazemos sobrar não só as coisas, como as pessoas", afirmou, numa mensagem gravada a 5 de Dezembro num encontro no Vaticano com membros do Movimento dos Trabalhadores Excluídos da Argentina, o seu país natal.

O Papa Francisco apelou à reciclagem e ao fim do desperdício alimentar. "Todos vocês sabem que com a comida que é deitada fora, podíamos alimentar todas as pessoas com fome no mundo."
 

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