Lulu, a “app” em que os homens são avaliados por elas

É uma "rede privada para as raparigas expressarem e partilharem aberta e honestamente as suas opiniões". Na Lulu, disponível nos EUA e no Brasil, eles são avaliados por elas — anonimamente

Uma festa, um bando de miúdas de "smartphone" na mão, uns quantos rapazes mais ou menos disponíveis. Ela pisca o olho para ali, aponta para acolá, a aplicação no telemóvel diz-lhe o que tem de saber. Num mundo em que tropeçamos em cardinais em todo o lado, a classificação de cada perfil chega-lhe em "hashtags": se um tem #TrêsPernas, outro é um #CozinheiroDeMãoCheia; se aquele é uma #SexualPanther, outro #OwnsCrocs; se, de zero a dez, um tem seis pontos, outro conta com nove. Na aplicação Lulu, são elas que os avaliam — anonimamente; no Brasil, eles respondem com o Clube do Bolinha, que não tem tido, nem de longe, o mesmo impacto.

A aplicação foi criada por Alexandra Chong, de 32 anos, que, depois de um "brunch" na ressaca do S. Valentim, em que passou seis horas a falar de tudo com outras mulheres, apercebeu-se do poder da "girl talk". "Estávamos todas a partilhar histórias sobre homens, relações e sexo", contou Chong ao "New York Times". Depois de muitas "lágrimas e gargalhadas", a empresária concluiu que elas precisavam de um motor de busca para encontros — um "Guygle". "Quando 'googlas' um homem, não queres saber se ele é republicano ou qual foi o tema da tese dele na faculdade. Queres saber se as mães gostam dele. Ele tem boas maneiras? É querido?"

A Lulu foi lançada inicialmente nos EUA e chegou em Novembro ao Brasil, onde já conta com três milhões de utilizadores, contra pouco mais de um milhão de americanos — a diferença vai, portanto, para além da língua das "hashtags". É, como se lê na apresentação no site, uma "rede privada para as raparigas expressarem e partilharem aberta e honestamente as suas opiniões". É tudo uma questão de poder — de "girl talk power". Para que as raparigas "tomem decisões mais inteligentes em assuntos que vão desde as relações à beleza ou saúde". Sim, porque o objectivo é que no início de 2014 a aplicação tenha espaço para outras áreas, como emprego e produtos de beleza.

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“Googlar” antes de um encontro

Se, como relatou Chong à "Time", "a maioria das mulheres vai 'googlar' um homem antes de um encontro", a Lulu faz uma espécie de "background check" antes de um primeiro encontro.

Através do “login” via Facebook, a utilizadora tem automaticamente acesso à lista de amigos homens, os únicos que pode avaliar. A partir daí, depois de escolhida a relação com o "avaliado" (de ex-namorado a familiar), seguem-se várias perguntas de escolha múltipla em várias categorias: boas maneiras, ambição, humor e, só por último, aparência. São, finalmente, pedidas algumas "hashtags" já pré-definidas e, de acordo com as respostas, é gerada uma pontuação. Estas escolhas são anónimas, mas é possível ver que avaliações já foram feitas anteriormente por outras mulheres. Nada de surpresas no primeiro encontro — basta procurar o nome e ver o que se diz por aí. Já eles só podem saber se têm avaliações na Lulu se pedirem a uma amiga para ver. Dentro da Lulu, podem adicionar fotos ao perfil, escolher umas quantas "hashtags" e solicitar uma classificação; quem não quiser, pode remover o seu perfil.

No Brasil, a aplicação deu tanto que falar (houve até um processo em tribunal) que as regras de privacidade foram alteradas nesta semana: deixam de poder ser avaliados todos os perfis importados directamente do Facebook, mas sim apenas aqueles dos homens que se inscreveram na aplicação, isto é, que estão "abertos ao 'feedback'", sublinhou ao "Globo" Deborah Singer, directora executiva de marketing e comunicação da Luluvise Inc., a empresa que desenvolveu a "app". Para terminar o ano em beleza, agora decidiram dar um "presente de Natal" a todos os interessados em conhecer a sua nota na Lulu. Basta aceder a BonsPartidosNoLulu e fazer um visto em "Sim, eu sou um #BomPartido e sei lidar".

Para já, a aplicação não está disponível em Portugal, e "não há planos para chegar a novos mercados", confirmou ao "Diário de Notícias" Deborah Singer. Certo é que a polémica não parece abrandar. Do outro lado do Atlântico, não tardou uma resposta: o Clube do Bolinha, que se assume como a versão masculina do Lulu. Se uns vêem as avaliações como "motivadoras para a mudança", outros evocam questões de invasão de privacidade e de insegurança. Mesmo entre elas, a aplicação não é consensual. Em Fevereiro, na "Slate", Amanda Hess resumiu a sua opinião logo num título: "Classificar homens na Lulu não dá poder. É assustador."

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