Natal de luxo ou de lixo?

A cultura natalícia parece ser uma bênção para quem passou um ano de tormentas, mas será mesmo assim?

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Michaela Rehle/Reuters

Esta altura do ano faz-me sempre levantar a mesma questão: O Natal é um luxo ou um lixo? E veja-se que não falo do conceito do que é o Natal, mas sim do que é o natal nos dias de hoje. Analisemos os vários quadrantes de que vos quero falar.

Numa época em que se vive a crise, que não é apenas nas carteiras, mas mais pesada ainda nas mentalidades e nos valores, as pessoas passam o ano em completo sufoco e acabam por se tornar (in)validamente egoístas como fonte de salvação. Contudo, ao chegar a famosa e tão esperada época natalícia tudo o que há de mau fica em pausa para regressar depois do dia de Reis. Muitos são os que, quando confrontados com os conceitos subjacentes à intervenção social, respondem com “quem está mal é porque quer, que vá trabalhar”, mas nesta altura tudo se muda, vão todos a correr pedir que os integrem em equipas de voluntariado para recolha de alimentos, de roupas, brinquedos (entre muitas outras coisas) porque, segundo o que já muitas vezes ouvi, “o importante é que na noite de natal não falte nada nas mesas das famílias portuguesas”. Agora levanta-se a questão: e nas restantes noites de jantar, pode faltar o que quer que seja?

Creio que a sociedade actual, particularmente a portuguesa, divide-se nesta época entre os valores morais e sociais que foram incutidos pelos processos culturais frutos do cristianismo e os processos de fragmentação social (resultantes das várias crises conjuntas e de uma globalização mal vivida) e eis que este é o resultado: de Janeiro a Dezembro vive-se no carpe diem no individual em que os outros seres que integram o sistema são meios facilitadores. No mês de Dezembro, vive-se o carpe diem no colectivo, onde os outros seres são uma maneira de atenuar o sentimento de culpa por não se ter sido socialmente responsável.

Há ainda pessoas que consideram que o presentear e apostar no “bom” exclusivamente nesta época (segundo as regras do mercado), são provas de amor. Não serão isto apenas compras emocionais e dar noções de empoderamento falsos?... ah, e vejamos que é claro, existem os poucos, mas suficientemente iluminados, que mantêm a sua postura igual e de responsabilidade social durante o ano todo. Esses serão, a meu ver, os responsáveis pela não falência da intervenção social, já que existem nas quatro estações do ano.

Um feliz Natal a todos/as, com aquilo que é mais relevante na vida de cada um/a.

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