É quase isso: do Pai Natal, com amor

Não tenho boas notícias. Com as novas regras para a reforma, estou a pensar em retirar-me, enquanto ainda posso ter direito a qualquer coisa. Não é fácil ser um velhote gordo, na Lapónia. Tenho que garantir alguma segurança para a velhice

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Zanthia/Flickr

Começo por dizer que estou muito contente por ter enviado esta carta por e-mail. Já não tenho paciência para ir aos correios. Para além disso, já tenho net em casa. Dantes, tinha que ir consultar o e-mail, todos os dias, à Loja do Cidadão.

Não tenho boas notícias. Com as novas regras para a reforma, estou a pensar em retirar-me, enquanto ainda posso ter direito a qualquer coisa. Não é fácil ser um velhote gordo, na Lapónia. Tenho que garantir alguma segurança para a velhice.

Da maneira que estão as coisas, a população vai ficar muito envelhecida. O Coelho da Páscoa, noutro dia, mandou-me um mail, a dizer que vai deixar de procriar. Quando um coelho deixa de procriar, o fim do mundo está próximo.

As condições para entregar prendas, no Natal, são cada vez piores. Tive que vender uma rena a um circo chinês. Ela queria ser artista, deixei-a ir. O pior é que, como havia animais em demasia, ela teve que tornar-se contorcionista. Noutro dia, telefonou-me, em lágrimas. “Nem sabes como um caixote pode ser claustrofóbico”, dizia, desesperada.

Os duendes formaram um sindicato. Trabalham oito horas por dia, o que me levou a ter que contratar mais funcionários, para poder dar resposta a todas as encomendas. O problema é que esta empresa foi fundada pelo meu pai, quando o Menino Jesus decidiu deixar de entregar prendas. Não sei por que carga de água o meu pai se lembrou de duendes. Não sei onde os arranjou, tive que contratar pessoas. O ambiente é terrível: as pessoas têm medo dos duendes; os duendes dizem que as pessoas cheiram mal. Recusam trabalhar em conjunto. É mais difícil fazer os turnos do que adivinhar o onze do Benfica.

O líder do sindicato dos duendes não é duende, nem trabalhou, alguma vez, neste ramo. Logo, é o gajo mais qualificado para a função. Dá-me cabo do juízo. Já pensei em trocá-lo pela rena, mas os gajos do circo chinês vêm de um país comunista e já não suportam sindicalistas de carreira.

Já não vou para novo. Noutro dia, fiz análises e os triglicéridos estão péssimos. Vou ter que fazer dieta. Quem é que vai gostar de um Pai Natal magro? A revista "Time" já pensa em trocar-me pelo Fernando Mendes, na categoria de “Gordo mais simpático do Mundo”.

Com a Internet, os putos já não acreditam, sequer, que eu existo. Seguem mais depressa uma mensagem veiculada pelo David Carreira e pelo Snoop Dogg, do que por mim. Queria ver como é que esses dois se saíam a distribuir prendas, com este frio. Até reconheço que têm uma vantagem: são magros, cabem em qualquer chaminé.

Vou reformar-me. O Estado terá que privatizar este serviço. No futuro, só os ricos terão direito a entrega de prendas, no Natal. Quem não tiver dinheiro vai ter que ir ao “Preço Certo”.

Desejo a todos um Natal com uma consistência assinalável.

Vou usar uma piada velhinha, do meu tempo de juventude, mas que resulta sempre: era para vos enviar 20 euros, mas já tinha desligado o computador.

Oh oh oh! (Isto não é riso, é tosse, seus palermas!)

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