Viva a morte lenta

Até os mais obstinados e épicos defensores da imprensa publicada em papel estão a oferecer versões digitais. Aqui recomendo a assinatura do Lapham's Quarterly, o magnífico trimestral de Lewis Lapham (director da Harper's Magazine de 1976 a 2006, com um soluço em 1982), por 29 dólares (21 euros) por ano. São quatro livros de 300 páginas, sem um único anúncio, por cinco euros e picos cada um.

Lapham promete que a edição digital "permite-nos ver cada página tal qual aparece impressa". Sim, é verdade: mas cada página leva tempo a aparecer e, quando aparece, surge enquadrada por uma moldura que faz lembrar o grafismo estupidamente infantil dos anos 90. No entanto, o argumento principal cada vez convence mais: o que é bom é vermos, no nosso iPad ou sucedâneo, um fac-símile de uma edição graficamente concebida e paginada para ser impressa.

O funeral de Nelson Mandela e a morte de Peter O'Toole levaram-me a revisitar o número mais recente do Lapham's Quarterly, dedicado (no verdadeiro sentido da palavra, a começar pelo sensato ensaio editorial, em que Lewis Lapham deseja a morte rápida e inesperada de que beneficiaram o avô paterno e o pai) à morte, com letra grande.

Peter O'Toole, que vi no Old Vic em 1989, a fazer de Jeffrey Bernard em Jeffrey Bernard is Unwell, de Keith Waterhouse, espantou-me por ter sido tão carismático como em Lawrence of Arabia (de David Lean, 1962), mas, ainda mais, em Lord Jim (de Richard Brooks, 1965).

Entretanto morreu.
 
 
 

Sugerir correcção
Comentar