Xi Jinping lança-se à caça do maior “tigre” da política chinesa

Investigação sem precedentes por corrupção de antigo alto dirigente do Partido Comunista Chinês serve como consolidação do poder do Presidente, Xi Jinping.

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Zhou Yongkang fez parte do Comité Permanente do Politburo do PCC Jason Lee/Reuters

Um dos políticos mais influentes da última década na China está a ser investigado por corrupção e abuso de poder e encontra-se, segundo fontes próximas do Governo, em prisão domiciliária. A investigação sobre Zhou Yongkang, um ex-membro do Comité Permanente do Partido Comunista (PCC), é vista como a quebra de uma das principais regras tácitas que regem o equilíbrio de poder na China.

Pequim ainda não fez qualquer declaração pública sobre o caso, que foi noticiado por vários meios de comunicação internacionais nos últimos dias. “Não é como nos últimos meses, quando [Zhou] estava a ser investigado secretamente e as restrições eram suaves. Agora é oficial”, afirmou ao New York Times uma fonte da liderança.

Assim que chegou ao poder, há cerca de um ano, o Presidente chinês, Xi Jinping, prometeu travar uma batalha contra a corrupção, vista como uma das maiores ameaças ao próprio domínio do PCC. Para isso, as investigações iriam varrer a forte hierarquia do poder de cima a baixo, algo que ficou patente na metáfora dos “tigres” e das “moscas”, utilizada por Xi, numa referência às grandes personalidades do regime e aos pequenos funcionários, respectivamente. Com o lançamento da investigação sobre Zhou Yongkang, o Presidente pode fazer uma das maiores caçadas do seu mandato.

Zhou era um poderoso veterano do PCC. Foi membro do selecto Comité Permanente do Politburo – a cúpula da cúpula do poder na China – e liderou o departamento de segurança interna, tendo a seu cargo a polícia e a rede de controlo de informação, um pilar decisivo para a manutenção da estabilidade do regime de partido único da China. Nunca desde a fundação da República Popular Chinesa, em 1949, um ex-membro do Comité Permanente foi envolvido numa investigação do género. Caso se confirme, ao lançar suspeitas sobre um ex-membro do órgão, Xi está a quebrar uma das regras não escritas mais importantes da política chinesa, como observa a The Economist – investigar um elemento do Comité Permanente.

A perseguição à corrupção esconde uma abordagem bem mais pragmática por parte da actual liderança do PCC. Ao mesmo tempo que apresenta uma imagem de “limpeza” ética da cúpula do poder, Xi tem afastado aqueles que se apresentam como os principais opositores à sua linha, pelo menos em teoria, começando por Bo Xilai, condenado a prisão perpétua em Outubro. “Xi Jinping e [o primeiro-ministro] Li Keqiang odeiam Zhou Yongkang uma vez que ele foi o único membro do Comité Permanente que se opôs ao afastamento de Bo Xilai”, explicou à Reuters uma fonte próxima da liderança.

Desde que se retirou, há cerca de um ano, Zhou começou a chamar a atenção da nova liderança do PCC. O cerco iniciou-se com as investigações a Li Chuncheng, um líder regional do partido na província de Sichuan, que subiu na hierarquia durante o período em que Zhou era secretário regional, entre 1999 e 2002. Nos meses seguintes, vários responsáveis locais foram investigados e detidos pela Comissão Central de Inspecção Disciplinar, o departamento do PCC encarregado dos casos de corrupção. Em Setembro, foi a vez de Jiang Jiemin, um protegido de Zhou, que foi responsável pela regulação das empresas estatais.

O poder de Zhou estendia-se também à “facção do petróleo”, que domina o sector, através de uma das principais empresas públicas de exploração petrolífera, a China National Petroleum Corporation (CNPC), à qual presidiu. O jornal Caixin lembra que, desde Agosto, cinco executivos da CNPC foram investigados por corrupção. Jiang também liderou a empresa, antes de ter passado para o sector regulador. “Xi tirou todos os dentes ao tigre”, observou uma fonte citada pela Reuters, referindo-se ao afastamento dos homens próximos de Zhou.

A queda de Zhou pode deixar um recado a outros dirigentes para os perigos de concentrar nas suas pessoas um poder excessivo. No entanto, Xi arrisca-se a minar a unidade dentro da elite dominante do PCC e a semear desconfiança entre os principais dirigentes. Xi “é alguém que gosta de mandar mensagens e que tem desafiado as leis físicas do regime há já algum tempo”, observa ao New York Times Christopher Johnson, um especialista em política chinesa.

Caso se confirme, a investigação agora em curso pode ser o golpe de misericórdia para o “tigre”. “Zhou Yongkang é um tigre sem dentes e o equivalente a um tigre morto”, sublinhou uma fonte ouvida pela Reuters. “A questão é: Será que Xi vai esfolar o tigre?”
 
 
 

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