Paulo Henriques abandona a Cultura: “Quando deixamos de acreditar não vale a pena esforçarmo-nos”

O historiador não se apresentou a concurso para a direcção do Museu do Chiado. São agora cinco os nomes que levarão a mudanças em instituições de topo do sector, num êxodo que a SEC não tem comentado.

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Paulo Henriques diz que "não há perspectivas positivas" na Cultura Daniel Rocha

Foi há um ano e meio que o conhecido historiador de arte e director de museus Paulo Henriques, de 56 anos, assumiu funções como responsável interino pelo Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea. Nessa altura, disse que estaria entre os candidatos a este cargo nos novos concursos obrigatórios na função pública. Não se candidatou. Em vez disso, pediu aposentação antecipada.

“Esforçamo-nos, mas quando deixamos de acreditar não vale a pena esforçarmo-nos”, disse ao PÚBLICO em breve conversa telefónica esta segunda-feira, pouco depois de a Direcção-Geral do Património Cultural ter feito saber, por comunicado, da escolha do até agora director do Museu do Neo-Realismo, David Santos, de 42 anos.

Depois de dirigir instituições como o Museu José Malhoa, o Museu Nacional do Azulejo, onde esteve 10 anos, e o Museu Nacional de Arte Antiga, o mais importante museu português, o historiador aponta as “grandes dificuldades” gerais do sector e, no caso concreto do Museu do Chiado, “a dependência absoluta dos eventuais mecenas”, devido à falta de apoio directo do Estado.

Na Cultura, refere, “não há [neste momento] perspectivas positivas”. Diz também que “a vida tem outros volantes”: “Fiz muito tempo de serviço [público], agora quero tirar partido desses outros volantes.”

Paulo Henriques junta-se assim a uma já pesada lista de nomes que levarão a mudanças em alguns dos mais importantes organismos e instituições culturais portuguesas. Tal como Paulo Henriques, Maria João Seixas, da Cinemateca Portuguesa, e Silvestre Lacerda, da Torre do Tombo, decidiram não se apresentar a concurso para continuar em funções e José Pedro Ribeiro demitiu-se do Instituto do Cinema e do Audiovisual. Já Samuel Rego não reunia condições para poder ir a concurso para continuar à frente da Direcção-Geral das Artes.

A Secretaria de Estado da Cultura não tem comentado estas sucessivas desistências no sector.  
 

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