Os bons alunos do "eduquês"

1. O PISA 2012 confirmou os avanços feitos por Portugal desde 2000 e a consolidação dos bons resultados obtidos em 2009. Os progressos dos alunos portugueses são particularmente visíveis na redução da distância em relação à média da OCDE: entre 2000 e 2012, passou de 26 para 8 pontos na leitura, de 31 para 12 nas ciências, e de 30 para 7 na matemática – um valor que, do ponto de vista estatístico, alinha Portugal com a média da OCDE na área mais importante do PISA 2012. Mais notável é o facto de, quando os resultados são ajustados às condições socioeconómicas das famílias, os alunos portugueses passarem, também na matemática, do 23.º para o 5.º lugar da tabela.

2. Ao mesmo tempo, o PISA lança sérias dúvidas sobre a qualidade do ensino no país que inspirou recentes mudanças legislativas em Portugal. Se a Suécia é alvo de atenção internacional, é porque os defensores da lei que, em 1992, passou a permitir a escolha da escola pelas famílias, a apresentaram como um exemplo de reforma que prometia revolucionar a qualidade do ensino. Vinte anos depois, é difícil ignorar o acentuado declínio da Suécia no PISA: entre 2000 e 2012, caiu na matemática do 14.º lugar (em 28 países/OCDE) para o 28.º (em 34 países/OCDE); na leitura, passou da 9.ª posição para a 29.ª; e nas ciências, da 10.ª para a 27.ª. Em 2012, a Suécia foi ultrapassada por Portugal nas três áreas, quando em 2000 a sua vantagem rondava os 50 pontos em cada uma. Se não é justo responsabilizar de forma direta o modelo de competição entre escolas por este declínio, é legitimo afirmar que aquele está desprovido de instrumentos de política para impedir o retrocesso constante nos resultados que colocam o país bem abaixo da média da OCDE, sobretudo tendo em conta os níveis de bem-estar material e de escolaridade das famílias suecas.

3. Enquanto o ministro da Educação, Jan Björklund, não escondeu a desilusão com os resultados, por cá os defensores do caso sueco optaram por considerar que, se o país cai para a cauda da OCDE, o problema não está no seu sistema educativo, mas nos testes internacionais, decretados irrelevantes para avaliar a qualidade do ensino. Seria, na verdade, mais transparente assumirem que a defesa do modelo sueco faz parte da promoção de uma agenda ideológica mais ampla que pretende reconfigurar a relação dos cidadãos com o Estado. Essa agenda liberal é perfeitamente legítima – mas tem pouco a ver com melhores resultados escolares ou mais equidade nas aprendizagens. Porém, os representantes dessa agenda investiram tanto na defesa do “sucesso” sueco que não conseguem agora aceitar que os filhos da reforma liberal sueca foram ultrapassados pelos filhos do “eduquês”. Sociólogo
 
 

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