A fisicalidade emocional de Daniel Avery

Enquanto o mercado americano rejubila com DJs e produtores de música de danças para massas (de David Guetta a Steve Aoki), os ingleses passam por um período de alguma invisibilidade em termos comerciais, embora criativamente não se possam queixar. No espaço do último ano Daniel Avery tornou-se numa das figuras mais relevantes das actuais sonoridades inspiradas no tecno e house. Aliás nesse campo os britânicos dominaram o ano, com os também excelentes álbuns de Jon Hopkins ou de James Holden. 

Tal como os álbuns daqueles, o registo de estreia de Avery pode ser desfrutado em espaço doméstico ou na pista de dança. É um disco físico, ritmado, marcado por linhas de baixo pulsantes e atmosferas hipnóticas, mas é essencialmente música de cariz instrumental – com apontamentos vocais – que reflecte e projecta estados de espírito. Ou seja, é música de cariz electrónico dançante, mas profundamente emocional, com qualquer coisa de melancólico e de caloroso à mistura, mesmo quando aposta deliberadamente na fisicalidade e nos efeitos retorcidos e ácidos. 

Como outros alquimistas electrónicos que pretendem evitar as texturas digitais mais óbvias, Daniel Avery expõe ideias simples, de forma clara e concisa, em ondas de ritmo a velocidade moderada e graciosas configurações melódicas, inspiradas quer no tecno mais elegante e clássico, quer na electrónica mais inventiva e abstracta, passando pelas modelações do acid-house ou pelo krautrock alemão dos anos 1970. No espaço inflacionado da música de características electrónicas de hoje vai sendo cada vez mais difícil descortinar alguém que tenha ideias precisas sobre o caminho a percorrer. Daniel Avery é um deles.

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