Mais de metade dos jovens portugueses admitem emigrar

A segurança no trabalho é o que mais procuram no país de destino, indica o resultado de um inquérito feito também em outros 11 países.

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O desemprego e a insegurança são dos principais motivos que fazem os portugueses querer sair Nuno Ferreira Santos

Desemprego, a procura de um melhor emprego, a difícil situação financeira pessoal ou do país. Vários são os motivos que levam mais de metade dos jovens portugueses inquiridos num estudo a admitir sair de Portugal, sendo que a percentagem que junta os que querem emigrar com os que já vivem noutro país ascende aos 57%.

De acordo com o estudo Emigração: motivos e destinos de eleição, encomendado pela seguradora Zurich e feito em 12 países, no total das várias faixas etárias só os russos têm uma vontade maior de emigrar do que os portugueses. Da amostra faziam também parte Alemanha, Áustria, Austrália, Espanha, Itália, Irlanda, Marrocos, México, Reino Unido e Suíça, num total de mais de 7700 inquiridos por telefone, online e pessoalmente entre Agosto e Setembro deste ano.

A percentagem de jovens diz respeito aos inquiridos com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos, sendo que 4% dos jovens já viviam noutros países e 9% estão a dar passos concretos para realizar a mudança em breve. No entanto, a maioria (32%) reconhece ainda ter medo de o fazer. A segurança no trabalho (62%) é a principal condição que esperam encontrar no país de destino, seguida da estabilidade política (37%).

A baixa taxa de criminalidade é um ponto que também têm em consideração (35%), assim como os regimes de poupança e pensões estáveis (ambos com 20%) — pelo que Alemanha, Áustria e Suíça são o destino apontado como número um por 50% dos jovens que disseram querer deixar Portugal. A América do Norte recolhe apenas 28% das preferências e a Europa do Sul 20%.

Mas olhando para outras faixas etárias, o valor também é elevado. Por exemplo, 50% dos inquiridos entre os 25 e os 34 anos também responderam que ponderam emigrar ou que já o fizeram (representando os que já saíram quase 5,5%). E mesmo entre os 35 e os 44 anos, a taxa ainda se aproxima dos 50%.

Ao todo, entre todas as faixas etárias (o estudo abarcou pessoas com mais de 65 anos), 40% dos portugueses disseram encarar a emigração como uma solução para a vida. Quanto aos 60% que pretendem ficar, a segurança é o principal motivo (18%), seguida do facto de não gostarem de mudanças (15%), das obrigações familiares (9%) e de considerarem que já vivem no melhor país do mundo (6%).

O número de pessoas que quer emigrar apenas é superior na Rússia, com 64%, e igualado por Marrocos. Mais uma vez, a segurança no trabalho é o motivo à cabeça, apontado por 55% dos inquiridos, seguido pela baixa criminalidade (36%), estabilidade política (29%), um regime de pensões estável (24%) e um regime de poupança estável (15%).

Nos países mais prósperos em termos económicos, o amor/relacionamentos e o desejo de aventura são as razões mais importantes para emigrar, sendo a América do Norte (EUA, Canadá) a região do mundo preferida para 31% dos entrevistados, seguida da Austrália e Nova Zelândia (29%). Só depois surge a Áustria, Alemanha e Suíça (28%).

120 mil saíram do país em 2012
O estudo surge pouco mais de um mês depois de se ter ficado a saber que, em resultado dos valores negativos do crescimento natural e do crescimento migratório, a população portuguesa voltou a diminuir, segundo as Estatísticas Demográficas de 2012 publicadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) no final de Outubro. Se, por um lado, houve menos de 90 mil nascimentos, por outro, cerca de 121 mil pessoas saíram de Portugal de forma temporária ou permanente.

Segundo os dados do INE, a população residente em 2012 era de 10.487.289 habitantes (10.542.398 em 2011). Foram 121.418 as pessoas a saírem de Portugal, um número resultante da soma dos emigrantes permanentes e dos emigrantes temporários (pessoas com intenção de permanecer no estrangeiro por um período inferior a um ano).

Enquanto o número de emigrantes permanentes foi de 51.958, os imigrantes permanentes ficaram por 14.606. A saída maciça de pessoas e a fraca atractividade de Portugal actuam em conjunto.

Desemprego em queda mas a subir nos jovens
Quanto aos dados do desemprego, a taxa em Portugal recuou em Outubro para os 15,7%, estando em queda há oito meses. O número de desempregados estimado pelo Eurostat para Portugal baixou, em Outubro, para 831 mil, menos sete mil pessoas do que no mês anterior.

Porém, entre a população dos 15 aos 24 anos, o desemprego passou de 36,2% para 36,5%, com um aumento de 3000 desempregados. Em Outubro, o Eurostat tinha registo de 149 mil jovens que não encontravam lugar no mercado de trabalho. Para calcular a taxa de desemprego para Portugal, o gabinete estatístico europeu baseia-se em dados do INE — que só publica informação trimestral sobre o mercado de trabalho — e do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).

Ao mesmo tempo, um novo índice divulgado na semana passada pelo Instituto Nacional de Estatísticadeu também conta que entre 2004 e 2009 as famílias portuguesas viram o seu rendimento disponível crescer, em média, dez pontos percentuais, mas “esses ganhos foram perdidos na quase totalidade” até 2012, com a crise económica.
 

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