Amazon Prime Air: a era dos exércitos domésticos

Vivemos a era da logística – a mesma logística que agora propõe o Amazon Prime Air, um sistema de entrega ao domicílio através de drones aéreos

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Chamam ao nosso tempo a era digital, a era cibernética, a era virtual ou a era da internet, mas talvez o termo mais preciso seja o da era da logística — a mesma logística que agora propõe o Amazon Prime Air, um sistema de entrega ao domicílio através de drones aéreos.

A logística – também chamada "a arte de definir e expandir o que é possível" – era um ramo dos exércitos modernos que se dedicava a fazer chegar abastecimentos às tropas na frente de batalha. Mas, depois da Segunda Guerra Mundial e da Guerra do Vietname, a logística invadiu a economia civil, que precisava desesperadamente de um meio de levar mercadorias depressa e a baixo custo de um lado ao outro lado do mundo. Assim surgiram os contentores, as empresas de logística e, agora, o Amazon Prime Air. Pois a própria livraria Amazon é um exemplo do sucesso da logística.

A maioria dos clientes da empresa não faz mais do que escolher o que quer comprar e a empresa trata do que acontece entre um clique de rato e um toque de campainha. Porque entre um e outro, a encomenda é transmitida ao centro de dados de um dos armazéns da empresa, que calcula o percurso ótimo para que um funcionário possa recolher o máximo de itens no mínimo de tempo possível, o que leva cada um destes empregados a percorrer mais de 20 km por dia.

Em seguida a encomenda é embalada em caixotes e lançada em camiões enviados para os centros de distribuição, onde milhares de mãos trabalham dia e noite para redistribuir as encomendas para os próximos destinos, que regra geral são o aeroporto mais próximo do cliente, onde um novo centro de distribuição vai alocar as várias encomendas a estafetas que – de camião, carrinha, mota ou bicicleta – irão percorrer ainda quilómetros para deixar à porta do cliente por vezes não mais do que um livro, um CD ou um frasco de comprimidos, que aquele talvez venha a devolver – por insatisfação ou mudança de ideias – iniciando todo o processo inverso.

E é esse o luxo de que desfrutamos: o de ter litros de gasolina, quilómetros de papel, horas de trabalho braçal, só para podermos ter a mais recente novidade literária, musical, informática nas nossas mãos e o mais rapidamente possível. E é isso que nos torna a cada um de nós, compradores online, um pequeno exército na frente de batalha das nossas próprias casas, sempre em busca de abastecimentos cada vez mais especializados, cada vez mais urgentes, que nos possam manter em moda ou entretidos.

É claro que não sabemos até quando a economia conseguirá sustentar esta logística do prazer individual, pois a verdade é que não existem guerras – mesmo comerciais ou culturais – que sejam baratas.

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