Até onde irá a União Europeia para recuperar a Ucrânia?

Depois da surpresa e decepção causadas pela decisão do Presidente da Ucrânia, Viktor Ianukovich, de cancelar um acordo de associação e comércio livre com a União Europeia (UE) uma semana antes da respectiva cerimónia de assinatura, os europeus mantêm a esperança de conseguir levar Kiev a mudar de posição.

Seis anos de negociações para aproximar a Ucrânia das normas económicas, de justiça e de direitos humanos da UE, colocaram as duas partes a um passo de assinar o acordo durante a cimeira de líderes dos países da Parceria Oriental, que decorreu na semana passada em Vílnius (Lituânia).

Faltava apenas uma condição, a libertação de Iulia Timochenko, a ex-primeira-ministra e líder da oposição presa desde 2011 e por sete anos, por abuso de poder em resultado de um processo visto pelos europeus como motivado por razões políticas.

Recusando dar este passo, Ianukovich preferiu virar-se para a Rússia, que colocou aliás a ex-república soviética sob forte pressão para se desviar da Europa, ameaçando com sanções económicas e com um encarecimento do preço do gás crucial para o aquecimento no Inverno caso o acordo de associação fosse assinado.

Sem a Ucrânia e os seus 46 milhões de cidadãos, a Parceria Oriental, destinada a assegurar a paz e a estabilidade na frente leste da UE perde o essencial do sentido.

Embora considerada mais que previsível por todos os que, em Bruxelas, seguem a política ucraniana, a chantagem de Moscovo – que encara a associação de qualquer uma das antigas repúblicas soviéticas como uma perda da sua zona de influência – não foi previamente tida em conta pelos europeus, que subitamente ficaram sem alternativas para contrapropor.

Neste contexto, os 610 milhões de euros previstos pela UE a título de apoio ao acordo de associação e comércio livre – que garantiria o acesso da Ucrânia ao mercado interno europeu de 500 milhões de cidadãos – fizeram pálida figura ao lado da promessa de ajuda – por enquanto apenas uma promessa – de vários milhares de milhões de euros avançada pelos russos.

A dificuldade da UE em saber o que fazer com a Ucrânia é que os seus membros não partilham a mesma perspectiva sobre a importância do país para a estabilidade da Europa. A Polónia, os países Bálticos e a Suécia, os principais impulsionadores da Parceria Oriental, gostariam de dar a Kiev uma perspectiva de adesão, uma eventualidade que a Alemanha, França ou Espanha não querem nem ouvir falar, sobretudo no actual contexto de crise económica e da dívida.

A Ucrânia, por seu lado, e apesar das impressionantes manifestações dos últimos dias, continua dividida entre a Europa e a Rússia, país com que ainda mantém, aliás, uma importante dependência económica.

Na Ucrânia, joga-se "uma grande batalha geopolítica, uma batalha para o futuro do continente europeu", afirmou Aleksander Kwasniewski, ex-presidente da Polónia e um dos emissários europeus a Kiev no dia em que Ianukovich decidiu cancelar o acordo com a UE.

A grande questão que ainda não tem resposta é saber até onde é que os europeus estarão dispostos a ir para reaproximar a Ucrânia da Europa. Por enquanto, a UE tem-se mantido firme na condenação da violência da polícia sobre os manifestantes, enquanto multiplica os apelos ao diálogo e as promessas de assinatura do acordo de associação logo que as condições o permitam.

Para serem credíveis, no entanto, os europeus não poderão ceder nas condições colocadas para a conclusão do acordo. A aposta é arriscada e pode correr mal. Qualquer cedência corre no entanto o risco de ser encarada como uma traição pelos manifestantes que, em Kiev, elevam a voz pelos valores europeus.
 

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