Tomar o todo pela parte

Convivo com este problema da generalização diariamente, porque quem “trabalha” com a exclusão/inclusão social encontra-se num autêntico campo de batalha da generalização.

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Adriano Miranda/Público

Facilmente fazemos deduções e avaliamos o que nos rodeia pelo primeiro olhar, pelas opiniões que ouvimos, pelas notícias que são veiculadas das mais diversas formas. Queremos ter certezas absolutas, queremos ter uma paleta apenas com preto e branco, com sim e não. As dúvidas parecem ser de difícil convivência, fazer perguntas e discutir soluções afigura-se cada vez mais cansativo, e desmotivador. É cada vez mais difícil encontrar alguém com quem se possa partilhar opiniões, diferentes pontos de vista, com quem se possa argumentar de uma forma salutar, sem se cair no erro de tentar encontrar culpados, qualquer que seja o tema em debate.

 

Nesta dita sociedade do conhecimento queremos tudo num estalar de dedos. Esperamos encontrar tudo “gloogando”, desde os factos mais recônditos da História aos estudos mais vanguardistas, muitas vezes fazendo pesquisas excessivamente direccionadas que ao invés de alargarem horizontes, os afunilam. Apenas buscamos ter razão. O que seria da ciência, da investigação se seguissem sempre os mesmos caminhos e apenas quisessem comprovar o que já sabiam? Nada tinha evoluído. Assim sucede quando tendemos a generalizar, tomando o todo pela parte. Não evoluímos.

 

"Batalha da generalização"

Convivo com este problema da generalização diariamente, porque quem “trabalha” com a exclusão/inclusão social encontra-se num autêntico campo de batalha da generalização. Considera-se que todas as pessoas com necessidades são iguais, ou seja, são uns mandriões que nada querem fazer, que apenas vivem à custa dos subsídios, que passam o dia sem nada fazerem e que não querem melhorar a sua vida. É verdade, estas situações existem, mas existem muitas outras em que a vontade de mudar e de evoluir são enormes, os sacrifícios são diários, e a busca pela mudança é constante.

 

Esta visão redutora de afirmar que quem procura apoio não o merece afasta cada vez mais quem necessita dos serviços que as podem ajudar, e que existem com esta missão, para não serem conotados com esta imagem negativa. Já é doloroso suficiente ter que solicitar auxílio, pior ainda quando a imagem criada é tão negra.

 

Conhecer as situações in-loco, ouvir as histórias e nada poder mudar, fazer e agir, provoca nós na garganta, mas estes nós desfazem-se com maior ou menor esforço, ao invés as generalizações e preconceitos permanecem e enraízam-se.

 

Por mais difícil que seja conhecer a realidade, ouvir os corações e as histórias, é mais vantajoso, não estamos a errar e a opinar sem conhecimento de causa. Quem nunca se sentiu injustiçado por lhe ter sido criada uma imagem por este ou aquele factor, por pertencer a este ou aquele grupo?

 

Numa sociedade que se diz inclusiva, livre, multirracial, padronizar e colocar pessoas e situações catalogadas por gavetas, traduz tudo menos o arco-íris que para mim deve caracterizar a sociedade.

 

Ter certezas dá-nos segurança, mas em excesso inibe-nos de sonhar, de imaginar, de procurar novos caminhos, novas soluções.

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