Cinco momentos do Vodafone Mexefest 2013

O festival que aqueceu o Inverno durante duas noites chegou ao fim. Aqui ficam cinco momentos para mais tarde recordar

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Miguel Manso

É nas escadas da Estação do Rossio que rascunho o início destas linhas. Está frio. Tants frio que etas paate do textp tive dee escrevet com luvas. O festival que aqueceu o Inverno da Avenida durante duas noites chegou ao fim. Para o ano há mais. Até lá, muitos dos artistas que por cá passaram neste fim-de-semana avizinham-se como repetentes daqui a uns meses. Para já, ficam os (meus) cinco momentos do festival.

John Grant

John Grant estacionou o politicamente correcto à porta do São Jorge. Assumidamente homossexual, o músico americano, com o seu humor quase britânico, começou por não poupar piropos à plateia (masculina). Mais tarde, para introduzir o tema "Glacier", julgou o carácter constitucional da Bíblia na sua América. Politiquices à parte, a chave da sua performance esteve na versatilidade do repertório, que oscilou entre as baladas, com destaque para a bonita "Marz", do seu primeiro disco, e temas mais dançáveis, onde se refugiou nos sintetizadores. Foi já com temas do mais recente álbum, primeiro através de "Pale Green Ghosts" e, mais tarde, com a movida "Black Belt", que Grant consolidou um dos melhores concertos do festival. Não é fácil levantar um São Jorge, e este americano fê-lo com a facilidade de quem parecia estar num "Green Ray" curado por si no Lux Frágil. Valeu.

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Erlend Øye Miguel Manso

Woodkid

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The Legendary Tigerman Miguel Manso

Woodkid entretém. A sua música é triunfal, canónica, uma epopeia de sopros e teclas que tem em qualquer festival o seu habitat. À parte disso, Yoann Lemoine sabe fazer as coisas. Não é um cantor, é um "performer". Um "frontman". É o puto que sabe como pedir dinheiro aos pais. Ao Coliseu, pediu palmas, refrães, o mundo. Foi hora e meia de aeróbica. “O gajo não pára”, cuspia um já derrotado. Desengane-se quem achar que é genuíno. É uma actuação cerebral, onde Yoann sabe que tem de puxar pelo público para esconder algumas das suas limitações na voz. Mas funciona. O francês contagiou um Coliseu gordo que, rendido, acabou a trautear à capela durante dois minutos os acordes de "Run Boy Run". Deu para perder três quilos e a chave de casa.

Erlend Øye

Erlend Øye é o músico na crise da meia idade. Depois de uma década nómada como The Whitest Boy Alive, o norueguês instalou-se em Itália para ficar. A sua sonoridade, agora a solo, é o reflexo desse boémio "dolce fare". Na sua acústica crua, Erlend parece levar-nos à penumbra das ruelas de Trastevere, num cenário que encaixaria que nem uma luva na “city-obsession” de Woody Allen. Com mais dois músicos em palco, Maurício, que ainda cantou em português, e Vítor, na flauta, Erlend Øye ofereceu um concerto sólido onde antecipou aquilo que o seu novo "La Prima Estate" pode trazer. O single, que partilha o nome do disco, fechou em chave de ouro o melhor concerto da segunda noite do festival.

Daughter

Blherc. Depois da promessa de um concerto mais musculado do que a versão em estúdio, fui na expectativa. Sem essa promessa, talvez nem tivesse ido. O problema de Daugher é que há tanto de xx na sua música que quase parece uma banda de tributo aos britânicos. Aguentei dez minutos. Aquele pseudo-melancolismo forçado talvez encaixasse se tivesse recebido um "Suf Menos" a Ciências da Natureza nessa tarde, mas como o dia até nem estava a correr mal fui guardar lugar para Erlend Øye.

Portugueses

É quase obrigatório começar por Gisela João. Com um dos mais bem conseguidos álbuns deste ano, Gisela ofereceu-nos um concerto intimista na bonita Sociedade Geográfica de Lisboa. O seu fado é ruptura. É uma melodia vadia, sem presunção, às vezes quase-dançável. Pede palmas. Pede algum burlesco. Pede aquele vestido curto que Gisela trouxe. Foi ao som do tema “Mariquinhas”, reescrito pela "rapper" portuguesa Capicua, que me rendi. O fado não tem de ser uma seca.

Entre os outros portugueses em cena, destaque para os anfitriões no São Jorge: na sexta, Márcia, que numa simbiose com Úria e Zambujo nos deixou entrar no seu "Casulo", e no sábado, The Legendary Tigerman, que soube envolver um público cansado de dois dias de festival, fechando a noite a cantar no meio da plateia. Uma palavras para os putos. Comprem CDs aos JUBA, “para o Miguel comprar umas cordas novas”, e oiçam Ciclo Preparatório. O futuro está ali e não no Factor X.

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