Fortaleza, Natal e Salvador: as três cidades onde a dengue pode apertar no Mundial de 2014

No Brasil, o Mundial de Futebol de 2014 irá atrair entre 500 mil e 600 mil turistas. Uma equipa analisou quais as cidades onde haverá mais probabilidade de se apanhar dengue.

Foto
Fortaleza estará na época quente da dengue em Junho e Julho, durante o Mundial Yasuyoshi Chiba/AFP (arquivo)

As cidades brasileiras de Fortaleza, Natal e Salvador são as que têm um maior risco de se apanhar a febre de dengue durante o Mundial de Futebol, alerta um estudo na última edição da revista Nature. Um comentário na mesma publicação recomenda aos turistas algumas precauções que ajudam a evitar as picadas dos mosquitos, que são os transmissores do vírus da dengue, uma doença que pode matar.

Mais de três milhões de bilhetes já foram vendidos para o Mundial de Futebol de 2014, a realizar-se no Brasil, entre 12 de Junho e 13 de Julho. Espera-se que entre 500 mil e 600 mil turistas visitem o Brasil, para verem as partidas disputadas entre 32 selecções do mundo, distribuídas por oito grupos, que vão realizar jogos em 12 cidades. Portugal conseguiu entrar no Mundial dia 19 deste mês, depois de vencer a Suécia por 3-2. Mas a selecção nacional só vai saber em que grupo é que vai calhar e em que cidades disputará as partidas a 6 de Dezembro, quando se fizer o sorteio que define os oito grupos.

Um risco que pode passar despercebido para os turistas que vão ao Brasil assistir ao Mundial é a febre da dengue, provocada por um vírus transmitido por mosquitos do género Aedes. Esta doença causa febres altas, dores em todo o corpo e pode ser mortal. Ainda não foi desenvolvida uma vacina contra o vírus. A doença existe nos trópicos, é endémica da Ásia até às Américas.

No Brasil, só neste ano, perto de 1,5 milhões de pessoas adoeceram com dengue. De acordo com os dados mais recentes para o Brasil, de 2013, divulgados pela Organização Mundial da Saúde, a doença foi confirmada, por análises clínicas, em 385.534 pessoas, 6931 das quais tiveram dengue severa e houve 522 mortes. “A febre da dengue é uma ameaça persistente para os brasileiros, assim como o é para milhares de milhões de pessoas nos trópicos”, escreve no comentário na Nature Simon Hay, epidemiologista da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

“[A doença] é muito menos familiar para outras pessoas, como os europeus. Isto quer dizer que a FIFA [Federação Internacional de Futebol], as autoridades brasileiras e os patrocinadores do Mundial têm de usar a sua influência e a sua experiência para comunicar o risco e as medidas protectoras que os fãs devem tomar”, lê-se no artigo.

Para ajudar a pensar sobre o risco desta doença, Simon Hay e colegas da Universidade de Oxford analisaram o risco de se apanhar dengue, durante o Mundial, nas 12 cidades brasileiras onde vão decorrer as partidas de futebol: Manaus, Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Cuiabá, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

Para isso, utilizaram os dados recolhidos pela Sistema de Informação de Agravos de Notificação, do Ministério da Saúde brasileiro, para observar a distribuição de casos de dengue nestas cidades ou, quando não havia informação para as cidades, nos estados, ao longo dos 12 meses do ano, entre 2001 e 2013. Desta forma, obtiveram um perfil anual dos casos de dengue nestas 12 cidades. Por fim, avaliaram aquelas que, em Junho e Julho, durante o Mundial, estavam na época da dengue.

Na maioria das cidades, a época da dengue é em Março e em Abril. “No entanto, nas cidades do Nordeste, a temporada de dengue tem um pico mais tardio que se prolonga. Os meses de Junho e Julho têm um risco alto para a dengue, particularmente em Fortaleza, Natal e Salvador”, escrevem os autores do artigo científico, assinado por Simon Hay e colegas da Universidade de Oxford.

“As autoridades brasileiras devem pôr em prática um sistema agressivo de controlo do vector [o mosquito] em Abril e Maio, particularmente à volta dos estádios [das cidades] do Norte, para diminuir o número de mosquitos transmissores de dengue”, sugere Simon Hay, no comentário.

Por sua vez, cada pessoa deverá evitar ser picada pelo mosquito. “Deve-se escolher alojamentos com janelas e portas protegidas, e com ar condicionado; usar insecticida dentro de casa; usar roupas que cubram as pernas e os braços, especialmente durante o início da manhã e o final da tarde, quando as probabilidades de se ser picado são maiores, e aplicar um repelente de insectos na roupa e na pele exposta”, diz o cientista, que explicita no artigo “não querer dissuadir ninguém” de ir ver o mais importante campeonato de futebol do mundo.

Sabe-se agora que há cinco estirpes de dengue. O número de casos tem aumentado ao longo dos anos por causa da crescente urbanização e da chegada dos mosquitos a novas áreas do globo, como na Madeira, Portugal, em 2012, causando a doença a cerca de 2200 pessoas.

Para Simon Hay, há um risco acrescido do aparecimento de um surto no Mundial do Brasil, devido ao aglomerado de pessoas: "Os adeptos podem introduzir inadvertidamente no Brasil novos genótipos [estirpes do vírus] da dengue, para os quais a imunidade da população local é baixa, e o ajuntamento de populações não imunes, e por isso susceptíveis, pode potenciar a transmissão transformando o fenómeno num surto."

Sugerir correcção
Comentar