Soares: “O Papa disse que isto vai resultar em violência dois dias depois de eu dizer”

"Se o PS fosse um bocadinho mais activo, tinha 90 por cento com certeza", afirmou o antigo Presidente.

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“Sou um grande fã do Papa, não por o ter copiado, ele disse que isto vai resultar numa grande violência dois dias depois de eu dizer.”

Com esta frase, pronunciada ao fim desta tarde de quarta-feira no Centro Cultural de Belém, Mário Soares não esqueceu os críticos que o acusaram, há uma semana, de ter apelado à violência. Foi na apresentação de A Esperança É Necessária, uma compilação de artigos publicados na imprensa nacional e estrangeira entre Setembro de 2012 e Julho passado.

“Disse isso na Aula Magna, disseram que estava a impor uma explosão, que queria que o povo português entrasse em luta, que eu estava a querer a violência”, lamentou o ex-Presidente da República. “Curiosamente, prezo-me de ter sorte ao longo da vida”, rematou.  

A sorte resulta do teor da exortação apostólica do Papa Francisco, Evangelii Gaudium, na qual é atacado o capitalismo sem limites. “Claro que ele já tinha pensado e escrito antes, quando me chamavam malandro e diziam que tinha apelado à violência”, ponderou. “Quem hoje manda são os mercados usurários”, denunciou Soares.

As suas colunas condensadas em livro reflectem este momento. A selecção não é imune a referências repetitivas. “As repetições são necessárias, repetir as coisas é importante para se saber a importância que as coisas têm”, disse. Numa plateia sem dirigentes nacionais do partido que fundou – o PS –, Mário Soares recordou a origem da presente crise.

“Thatcher (à qual dedica um artigo), o Presidente dos Estados Unidos [Ronald Reagan] e o Blair (o antigo primeiro-ministro da Grã-Bretanha Tony Blair) destruíram tudo isto”, criticou. E assentou a mira no trabalhista: “Para ganhar dinheiro converteu-se ao catolicismo, depois de ter sido protestante toda a vida, mudou de camisa, de trabalhista não tem nada.”

“Estamos a caminho de uma segunda ditadura”, vaticina sobre Portugal. “A situação do país é insustentável.” E não esqueceu os socialistas portugueses: "Se o PS fosse um bocadinho mais activo, tinha 90 por cento com certeza." Não poupou o Governo e Cavaco, suscitando aplausos da assistência. Composta por soaristas de sempre: Vasco Vieira de Almeida, Carlos Monjardino, Almeida Santos, Dias da Cunha, Vítor Ramalho e Maria Antónia Palla. De outras áreas estavam Fernando Rosas, João Semedo, Manuel Carvalho da Silva, Proença de Carvalho e Vitorino. Deputados socialistas, para além de Isabel Moreira que com Viriato Soromenho Marques apresentou o livro, estavam Gabriela Canavilhas e Miranda Calha.

Mas Soares falou também de esperança. Deu a sua receita, que justifica o verde do título da compilação. “Este livro também desenvolve uma certa esperança”, disse Soares. Pistas de que falaram Isabel Moreira e Soromenho Marques. De uma Europa solidária e não dirigida por um directório, após uma época em quem a União Europeia se revelou mais liberal que os Estados Unidos.


 
 
 
 

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