Dono de restaurante diz que barricado lhe exigiu 50 mil euros

Homem que se barricou em restaurante e matou militar da GNR acabou por ser abatido pela polícia, num restaurante no Pinhal Novo.

Foi uma madrugada de domingo de puro terror no Pinhal Novo. Um homem matou um jovem militar da GNR e feriu seis pessoas ao longo das quase sete horas em que permaneceu barricado dentro de um restaurante desta localidade de Palmela, até ser morto durante uma operação policial, após negociações que não surtiram qualquer efeito.

“Ele disse: vamos morrer aqui todos”, relatou às estações de televisão SIC e TVI o proprietário do Restaurante O Refúgio, Gaspar Veloso, que afastou categoricamente um cenário de eventual ajuste de contas e revelou que o indivíduo lhe pediu “50 mil euros”, alegando que estava doente e tinha apenas “um ano de vida”.

Com 58 anos, pintor da construção civil desempregado, o cidadão moldavo que era por ali conhecido como “Miguel” chegou ao restaurante na noite de sábado, bebeu algumas bebidas e depois exibiu uma arma, visivelmente transtornado. Trazia granadas e explosivos e fez alguns reféns, amarrando com “braçadeiras de plástico” Gaspar Veloso e seu filho, segundo este contou às estações de televisão.

Alguns clientes conseguiram entretanto pedir auxílio, telefonando para o 112. Brunho Chainho, de 27 anos, desde 2010 na GNR, integrava a primeira patrulha a chegar ao local e foi baleado, sem poder ser socorrido. Com os clientes a aproveitar para fugir do restaurante, o cidadão moldavo fez detonar um engenho explosivo que provocou ferimentos ligeiros a pelo menos quatro pessoas, entre civis e militares de outra patrulha que a GNR fez deslocar para o Pinhal Novo.

Ao longo da madrugada, apesar de todas as tentativas, a equipa de negociadores mobilizada para o local não conseguiu convencê-lo a render-se nem a permitir que o militar baleado fosse socorrido. “O indivíduo recusava-se a negociar”, explicou o porta-voz da GNR de Setúbal, tenente-coronel Jorge Goulão. Nas horas que se seguiram, o efectivo da GNR foi reforçado e foi criado um enorme perímetro de segurança em torno do restaurante, que fica localizado num bairro residencial do Pinhal Novo. A rua foi cortada ao trânsito e várias habitações foram mesmo evacuadas, por precaução.

A GNR chegou a levar ao local um antigo colega do barricado, para o tentar convencer, comunicando por megafone, a render-se ou a permitir pelo menos o auxílio ao militar alvejado. Mas ele terá dito que preferia morrer a sair. O imigrante parecia muito perturbado depois de ter alvejado o jovem militar da GNR. “Li nos olhos dele e vi que ele ponderou e pensou duas vezes: 'Estou desgraçado'”, descreveu Gaspar Veloso, acrescentando que conseguiu soltar a braçadeira que o prendia ao filho, atirar-se “para cima” do indivíduo e retirar-lhe uma granada da mão.

“Corri para a porta e mandei a granada”, descreveu, sem conseguir precisar se foi esta que feriu os militares da GNR no exterior. Depois disto, o imigrante voltou a empunhar a arma, mas o filho de Veloso terá conseguido dar-lhe um murro e fugir. O dono do restaurante, que também trabalha na construção civil, admitiu que Miguel colaborou com um subempreiteiro seu há 11 anos, quando construiu aquele bairro no Pinhal Novo, mas garantiu que ele nunca lhe pediu trabalho nem lhe conhecia quaisquer comportamentos agressivos.

Após mais de seis horas de negociações, a GNR –  que descreveu esta operação como de “alto risco” e “inédita” pelo grau de violência – avançou com uma intervenção táctica, às 5h17, depois de o homem ter morto um cão das brigadas cinotécnicas e ferido outro. O cidadão moldavo, que transportava uma bomba artesanal além de várias granadas, acabou por ser abatido.

Associação da GNR lamenta “falta” de efectivos 
A Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda (ASPIG) alertou neste domingo para a falta de mais de cinco mil efectivos na GNR, considerando que põe em perigo a segurança dos militares por falta de apoio nas patrulhas. A morte de um militar da GNR durante a operação num restaurante no Pinhal Novo levou o presidente da ASPIG, José Alho, a chamar a atenção para a situação em que trabalham muitos.

"Quem padece são sempre os patrulheiros da guarda. São sempre os mal-amados e são sempre os que morrem, porque são os que vão ao primeiro contacto", afirmou, lembrando que o quadro orgânico da GNR definia a necessidade de cerca de 28 mil efectivos, mas actualmente tem menos de 23 mil. "Todos os dias temos militares a serem agredidos. Todos os dias temos detenções de pessoas por agredirem os militares", lamentou.

Já a Associação Profissional dos Guardas (APG/GNR) considerou que o incidente no restaurante do Pinhal Novo contraria as garantias do ministro da Administração Interna sobre a segurança pública. Em comunicado, a APG/GNR afirma que o episódio no qual morreram dois homens demonstra que "a criminalidade se tem tornado, além de mais violenta, cada vez mais eficaz e sofisticada", e o "oposto" do que sugere o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo.
 

Sugerir correcção
Comentar