Morreu Fred Sanger, duplo premiado com o Nobel da Química

Primeiro pela sequenciação de proteínas, depois pela sequenciação de ácidos nucleicos, Frederick Sanger recebeu dois prémios Nobel da Química. É um dos nomes da história da genética.

Frederick Sanger
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Frederick Sanger em Dezembro de 1980, quando recebeu o segundo Nobel
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Frederick Sanger em Dezembro de 1980, quando recebeu o segundo Nobel AFP

Pensou em ser médico, tal o seu pai, mas antes de entrar para a universidade optou pela investigação científica. “Teria mais vocação para uma carreira em que pudesse concentrar as minhas actividades e interesses num único objectivo”, disse Frederick Sanger na sua autobiografia publicada no “site” do prémio Nobel. Desenvolveu investigação em bioquímica na Universidade de Cambridge, tentando concentrar-se apenas na investigação e evitando as aulas e responsabilidades administrativas. Reformou-se em 1983, com 65 anos, para se dedicar à jardinagem. Morreu esta semana, aos 95 anos.

Frederick Sanger foi o único investigador britânico galardoado com dois prémios Nobel e o único a receber dois Nobel da Química. Trabalhou com um grupo especialmente dedicado ao estudo das proteínas e foi o desenvolvimento de uma metodologia que permitisse determinar a sequenciação dos aminoácidos [os tijolos] destas proteínas, em particular da insulina, que lhe valeu o primeiro prémio em 1958.

Mantendo sempre o interesse na sequenciação, mudou-se das proteínas para os ácidos nucleicos (ADN e ARN), especialmente quando começou a trabalhar numa equipa que incluía Francis Crick – prémio Nobel da Medicina de 1962 pela descoberta da estrutura da molécula de ADN. Em 1980, Sanger recebe o segundo prémio, pela contribuição para sequenciação do ADN, um trabalho fundamental para o mapeamento do genoma humano.

O prémio Nobel foi atribuído à mesma pessoa apenas quatro vezes, entre elas a Sanger. Apesar disso, o investigador manteve-se sempre modesto, atribuindo o seu sucesso aos investigadores com quem trabalhava e à sua mulher. Rejeitou mesmo ser chamado “sir”, depois de ter sido honrado com a Ordem de Mérito conferida pela rainha Isabel II, em 1986.

A técnica de sequenciação de ADN criada por Sanger ainda hoje é usada, e foi utilizada na sequenciação do genoma humano. Em homenagem ao investigador, o centro de estudos genéticos britânico financiado pelo Wellcome Trust tem o nome de Instituto Sanger. “O Fred [Sanger] pode perfeitamente ser chamado o pai da genómica. O seu trabalho lançou as fundações para a leitura e compreensão do código genético, que revolucionou a biologia e está actualmente a contribuir para melhorias nos cuidados de saúde”, refere Jeremy Farrar, director do Wellcome Trust, citado pelo jornal britânico The Guardian.
 
 
 

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