Eleitores votaram nas zonas dos ataques no centro de Moçambique
Anulada eleição para a presidência do município de Nampula, naquele que terá sido um percalço isolado nas autárquicas.
A Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) tinha anunciado, pelo seu porta-voz em Maputo, Fernando Mazanga, que os antigos guerrilheiros não iam andar aos tiros durante as eleições autárquicas, que boicotaram. Mas disse também que o partido não reconhecerá a legitimidade aos eleitos.
Esta quarta-feira à noite decorria a contagem de votos das quartas eleições autárquicas de Moçambique, que se realizaram num momento de instabilidade motivada pela ameaça do regresso à guerra que o país viveu durante 16 anos, até 1992. Ainda assim não houve incidentes relevantes durante o dia. A única novidade de um processo que decorreu com aparente normalidade foi a anulação da eleição para a presidência do município de Nampula, na província do mesmo nome.
Ao fim do dia, a Comissão Nacional de Eleições anunciou a anulação e disse que não seria feita a contagem de votos por não ter sido impresso nos boletins de voto nem o nome nem a fotografia de uma dos quatro candidatos – Filomena Muturopa, que corria pelo Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO). Logo de manhã, quando o problema foi conhecido, a candidata apareceu em lágrimas, na televisão estatal moçambicana.
O dia começou, do ponto de vista político, com declarações do Presidente da República e líder da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder desde a independência, em 1975). Além de apelar à participação eleitoral, Armando Guebuza disse que a Frelimo “não vota para perder”.
O Presidente, um dos mais de três milhões de eleitores registados nas 53 autarquias do país, disse que “obviamente” estava assegurada “a segurança dos cidadãos e de todo o processo” e considerou que há “algum exagero” quando se fala de insegurança na zona centro do país, porque os ataques armados que ali têm ocorrido são “em zonas muito bem identificadas e localizadas”.
Sobre o boicote eleitoral da Renamo, disse que “só ela pode responder”. Questionado sobre o que é preciso para desbloquear a falta de diálogo entre o Governo e o principal partido da oposição respondeu : “Vejam se convencem o senhor Dhlakama”
O boicote foi justificado pela Renamo com a discordância sobre a composição dos órgãos eleitorais, maioritariamente formados por elementos da Frelimo. O partido oposicionista contesta também a partidarização do Estado.
O líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Davis Simango, que se recandidatou à presidência do município da Beira, apelou também aos moçambicanos para não deixarem de votar, evitando ser governados localmente por pessoas que não escolheram. Na mesma linha se pronunciou Venâncio Mondlane, candidato do mesmo partido que concorre contra o presidente em funções no município de Maputo – David Simango. Mondlande foi mais longe num aspecto: apelou à mobilização dos eleitores para acompanharem o processo eleitoral e garantirem a verdade das eleições.
No mandato que agora chega ao fim, a Frelimo só não preside a dois municípios – Beira, província de Sofala, e Quelimane, província da Zambézia - governadas pelo MDM, terceira força no Parlamento, única que concorreu contra o partido governamental em todo o país.