Terá sido a princesa do Qatar a comprar o tríptico de Bacon?

A shaykhah Al Mayassa Hamad bin al-Thani, irmã do emir do Qatar, foi nomeada este mês pela ArtReview a personalidade mais poderosa do mundo da arte.

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Três estudos de Lucian Freud, de Francis Bacon, tornou-se na obra de arte mais cara de sempre a ser vendida em leilão por 106 milhões de euros e logo começaram as especulações. Ganham agora força os rumores que apontam, uma vez mais, para a shaykhah Al Mayassa Hamad bin al-Thani, irmã do emir do Qatar.

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Três estudos de Lucian Freud, de Francis Bacon, tornou-se na obra de arte mais cara de sempre a ser vendida em leilão por 106 milhões de euros e logo começaram as especulações. Ganham agora força os rumores que apontam, uma vez mais, para a shaykhah Al Mayassa Hamad bin al-Thani, irmã do emir do Qatar.

Nos últimos anos tem sido mais ou menos assim. Sempre que há um grande negócio no mundo da arte, seja em leilão ou numa venda privada, pensa-se de imediato na família real do pequeno emirado. Foi o que aconteceu, por exemplo, no ano passado quando em Maio uma versão de O Grito, obra icónica do norueguês Edvard Munch, foi arrematada por 91 milhões de euros, tornando-se então na obra leiloada mais cara de sempre.

Desde essa altura que se tentava descobrir quem tinha sido o comprador anónimo, com Al Mayassa Hamad bin al-Thani, 30 anos, presidente da Autoridade dos Museus do Qatar, a encabeçar a lista de possibilidades. Em Julho, descobriu-se que afinal quem tinha comprado esta pintura fora Leon Black, um milionário nova-iorquino. Mas a verdade é que já é hábito ouvir o nome da princesa entre os "suspeitos".

Tudo porque Al Mayassa tem estado por trás de alguns dos mais importantes negócios da arte, dos quais se destaca a compra, em 2011, de Os jogadores de cartas, de Paul Cézanne, por 190 milhões de euros. O negócio foi feito em privado entre a família real e o magnata grego George Embiricos, proprietário do quadro, que morreu no final desse mesmo ano. O valor traduz-se em mais um recorde - a obra de arte mais cara de sempre (das transacções conhecidas, é claro) - que ainda hoje se mantém.

Agora, se se confirmarem os rumores que esta quarta-feira se multiplicam na imprensa, pertencerá à família real também a obra mais cara de sempre vendida em leilão, ou seja, o tríptico em que Bacon (1909-1992) retrata outro pintor, o seu amigo Lucian Freud.

Seis minutos foi quanto durou a venda desta pintura de 1969, que nunca tinha sido levada à praça. Como é habitual nestas situações, grande parte dos licitadores não está presente no leilão, recorrendo a intermediários ou acompanhando a venda por telefone. Muitas das vezes mantêm-se no anonimato, outras a sua identidade é revelada mais tarde porque alguém próximo do negócio.

Foi o que aconteceu neste caso. O diário The New York Post escreve que no leilão a obra foi comprada por uma conhecida galeria nova-iorquina, a Acquavella, em nome de um cliente secreto, que segundo “várias fontes” será então Al Mayassa, que terá adquirido ainda uma outra obra de Bacon, um Mark Rothko e um Damien Hirst por um total de 117 milhões de euros.

Segundo o Doha News, do Qatar, o porta-voz da Autoridade dos Museus do emirado não confirmou nem negou esta notícia. Também o jornal britânico The Telegraph escreve que tentou contactar a embaixada do Quatar em Washington e a Acquavella Gallery mas nenhuma das instituições esteve disponível. Já o site ArtInfo nega a notícia do New York Post, escrevendo que uma representante da galeria nova-iorquina lhe garantiu que não é Al-Mayassa o comprador mistério.

A dúvida continua mas o Telegraph lembra que ainda este mês Al-Mayassa foi nomeada a mais poderosa no mundo da arte pela ArtReview, que todos os anos divulga o seu top 100 dos nomes mais influentes no mercado. No perfil traçado por esta publicação especializada, a irmã do emir “está muito à frente da competição” no que diz respeito ao poder de compra, estimando-se que gaste por ano perto de mil milhões de dólares (qualquer coisa como 700 milhões de euros) – quase 30 vezes mais do que o museu de arte moderna de Nova Iorque (MoMA) gastou em obras de arte no último ano ou 175 vezes o que a Tate investiu, acrescenta a ArtReview.

Formada em Ciências Políticas e Literatura nos Estados Unidos, Al-Mayassa tem sido um dos principais rostos das mudanças culturais do Qatar, propondo-se a actualizar o país através da criação artística. Apesar de ser um pequeno emirado, o Qatar quer impor-se como um dos centros mundiais da arte contemporânea, estando já previstos mais dois museus para a capital, Doha: o Museu Nacional do Qatar, concebido pelo arquitecto francês Jean Nouvel, e o museu orientalista, desenhado pela dupla suíça Herzog & De Meuron. É lícito esperar que as compras da princesa não abrandem tão cedo.