Fui a Copenhaga e apaixonei-me

Há mais bicicletas do que habitantes e metade da população desloca-se regularmente por esse meio com ar de aristocrata hirto no trono e simultaneamente de "hipster" assumido

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News Oresund/Flickr

Sabemos que chegámos a um sítio maravilhoso quando o perigo de ser atropelado por uma bicicleta é real e os trocos nos bolsos têm corações gravados em ambas as faces sem isso afectar a credibilidade da moeda nacional.

Na verde Copenhaga, há mais bicicletas do que habitantes e metade da população desloca-se regularmente por esse meio com ar de aristocrata hirto no trono e simultaneamente de "hipster" assumido.

Decorada com bandeirinhas vermelhas e brancas que os seus habitantes ostentam orgulhosamente sem motivo aparente, Copenhaga é também uma cidade rodeada de água que se deve descobrir navegando a bordo dos seus "autocarros" aquáticos.

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Mariana Groba Gomes

Nestas tardes de Novembro, cafés e restaurantes continuavam de esplanadas abertas desafiando o Inverno iminente, convidando quem por ali passasse a provar as famosas e deliciosas "smorrebrod", fatias de pão de centeio com peixe fumado por cima.

A quantidade de antiquários sedeados no bairro de Norrebro faria corar de prazer qualquer coleccionador digno desse nome. E para quem não gosta de velharias, as variadíssimas lojas de design moderno são o pretexto ideal para sucumbir ao consumismo e comprar a recordação perfeita para o amigo amante de "gadgets" originais.

Das casas às cores vivas e influência holandesa do século XVII, no canal de Nyhavn, à famosa Den Sorte Diamant, a biblioteca real, imponente construção contemporânea representada por dois cubos inclinados de vidro, granito preto e arenito português, é impossível ficar indiferente perante a originalidade do design arquitectural que surpreende e não se esqueceu de cuidar o património antigo.

É ainda a cidade mãe do planeamento urbanístico "playful" e, exibindo bancos disfarçados em baloiços, pontes de madeira inclinadas na água plantadas e outras construções originais, relembra-nos que a chave de uma cidade atractiva reside em apostar na criatividade.

Em Vesterbro, encontrei uma das famosas "bodegas", onde ainda se pode beber cerveja boa e barata, admirar a subcultura local e fumar livremente, sinal de que apesar de estarmos no Norte da Europa, Copenhaga sabe arrogar alguma desobediência.

Copenhaga parece ainda estar em ruptura com a maioria dos seus agnósticos irmãos europeus. É "cool" ser político. A prova está nas cabeças de lista dos cartazes dos diversos partidos políticos que decoram as ruas da capital em véspera de eleições regionais. É raro ver uma cara com mais de 40 anos. Sinal de algum vanguardismo político, na Dinamarca, qualquer cidadão europeu residente pode e é fortemente encorajado a eleger os seus representantes nas eleições regionais.

Se não assistíssemos a uma subida da xenófoba extrema direita dinamarquesa, diria que Copenhaga, apesar de não ser tropical, ter ar de ilha aberta para o mundo. Mas suponho que não se pode pertencer ao “ranking” das melhores cidades para se viver no mundo e não ter alguns indivíduos que não perceberam que a multiculturalidade é um dos ingredientes desse mesmo sucesso. Mesmo assim, Copenhaga recomenda-se vivamente.

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