É quase isso: obrigado, Facebook!

O Facebook motiva-nos, ensina-nos o que é o amor e a amizade (em Português do Brasil), diz-nos quantos anos tem Medina Carreira ou quantas cabeças tem José Sócrates

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ohefin/Flickr

Se não fosse o Facebook, eu seria apenas ignorante. Graças a esta rede social, sou um ignorante que sabe coisas absolutamente espectaculares. E úteis.

Factos: o Facebook é a segunda maior fonte mundial de motivação, logo a seguir ao Mourinho; meia hora de Facebook motiva mais do que dezasseis horas de discursos do Paulo Bento; em dois dias de Facebook, aprende-se quase tanto como Miguel Relvas em 43 segundos.

Quantos de nós não aprenderam o que era o amor e amizade numa imagem de um pôr-do-sol, de uma praia ou de um jardim, acompanhada de uma frase (leiam com pronúncia do Brasil, por favor) como “Se você não enxerga quem gosta de você, então vá no oculista” ou “Os verdadeiros amigos estão sempre com você, se concorda, dá uma curtida, se não concorda, vai te catar (mas partilha)”.

Quando leio estas frases sobre a amizade, sou assaltado por duas sensações. Uma é de incerteza: devo dizer, às pessoas de quem sou apenas conhecido e não, propriamente, amigo, que não poderão contar comigo, caso precisem?

A outra sensação é aborrecimento, o que me torna incapaz de "dar uma curtida".

Ainda sobre este tema, devo dizer que não concordo com as imagens que acompanham as frases. São paisagens bonitas, que retiram atenção à mensagem. Deveriam ser imagens desagradáveis, que, por um lado, levassem o leitor a centrar-se nas palavras, e, por outro, permitissem uma certa referencialidade.

Dois exemplos: uma sucata em pano de fundo, com a frase “Se você está farto de amigos materialistas, jogue-os fora, mas peça reembolso”; uma casa-de-banho, com a frase “Verdadeiros amigos são como banheiro: não precisam ser bonitos, mas têm que lá estar para você”.

(Peço desculpa pelas frases estarem em Português do Brasil, mas este país tem uma fortíssima indústria de ditos “facebookianos”.)

Claro que também descobrimos, no Facebook, que John Travolta, Nicolas Cage e Medina Carreira são mais velhos do que aparentam (Medina Carreira não tem fotografia, porque as guarda num dossiê, junto com os orçamentos do Estado do século XVII).

Aprendemos que José Sócrates é uma figura mitológica com três cabeças: uma para comentários televisivos, outra para liderar o PS e uma terceira, na qual ele ainda governa Portugal.

Ficámos a saber que há tantas máfias secretas, no Mundo, que se torna difícil perceber como há dinheiro, recursos e mesmo mafiosos para todas.

Contaram-nos o segredo para Marcelo Rebelo de Sousa dormir três horas por noite: foram fabricados doze exemplares, com diferentes conjuntos de competências. Apenas um traço é comum à dúzia: todos sonham ser Presidentes da República.

Aprendemos que o Facebook é tão atractivo que já houve dois ataques de civilizações extraterrestres impedidos pela rede social. A explicação é simples: os ET’s criaram perfis, para nos controlarem a partir da rede, mas acabaram viciados em “Candy Crush” e a “dar curtidas” em paisagens bonitas ou vídeos fofos.

Até o ser mais calculista, que tenha um gatinho branco e queira dominar o mundo, não resiste a mais um vídeo de pandas. E acaba, invariavelmente, a "dar uma curtida".

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