Estudar os efeitos dos nutrientes um a um para melhor perceber o cérebro

Uma equipa internacional que integra cientistas portugueses desenvolveu uma técnica para analisar, na mosca-do-vinagre, os efeitos de cada componente dos alimentos sobre o cérebro e o comportamento.

Foto
A mosca-do-vinagre é um modelo animal muito usado em neurociências DR

Perceber como a composição da comida ingerida por animais de laboratório afecta o seu cérebro e comportamento é importante porque pode dar pistas sobre os efeitos da dieta sobre o cérebro e o comportamento humanos. Agora, uma técnica permite fazer precisamente isso – na mosca-do-vinagre. Os resultados foram publicados no domingo ao fim da tarde na revista Nature Methods.

A nova técnica é o fruto de sete anos de colaboração entre cientistas da Fundação Champalimaud (Portugal), do University College de Londres, do King's College de Londres, da Universidade do Michigan (EUA) e do Instituto Max Planck (Alemanha).

Carlos Ribeiro, investigador do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud e um dos co-autores do trabalho, explica em comunicado daquela instituição que a técnica vai permitir perceber como é que as alterações nos níveis de determinados nutrientes na dieta da mosca-do-vinagre podem resultar em alterações no cérebro e no comportamento destes insectos.

Os cientistas criaram uma comida artificial que tem a mesma qualidade do que a comida normal das moscas-do-vinagre, mas que, tendo uma formulação perfeitamente conhecida, permite retirar "cirurgicamente" cada componente para conhecer o seu efeito. "Analisámos o efeito que a dieta tem no comportamento. Quando se tiram as proteínas, o comportamento muda completamente, por exemplo", diz Carlos Ribeiro, citado pela agência Lusa.

"A comida que consumimos afecta todos os aspectos da nossa vida, incluindo o envelhecimento, a fertilidade, a esperança de vida, o estado mental e o comportamento", salienta o cientista, acrescentando que o novo método permite estudar cada nutriente de forma isolada.

“Ao nível molecular, a composição da comida é demasiado complexa, o que torna extremamente difícil percebermos quais os nutrientes capazes de afectar o nosso bem-estar”, frisa por seu lado Ricardo Leitão Gonçalves, o outro co-autor português. "Se queremos saber por que nos sentimos mais leves quando comemos um vegetal do que que quando comemos um bife, é muito difícil determinar o que, no bife, faz a diferença", disse ainda.

A equipa escreve no seu artigo que esta comida artificial também poderá permitir que cientistas de todo o mundo que utilizam a mosca-do-vinagre como modelo experimental passem a alimentar estes insectos com a mesma "receita", tornando assim mais rigorosa a comparação dos resultados de futuros estudos.
 

Sugerir correcção
Comentar