As obras guardadas por Gurlitt são a sua vida e ele não as quer entregar “voluntariamente”

Origem das 1400 obras encontradas num apartamento de Munique está a ser investigada. O homem que tinha este acervo em casa já não as tem consigo, mas à Der Spiegel diz que não as quer perder.

Fotogaleria
Só 121 das 1401 obras estavam conservadas com moldura DR
Fotogaleria
As autoridades suspeitam que, pelo menos, 590 obras tenham sido roubadas no período nazi DR

Diz não ter tido maior dedicação na vida do que as obras da sua colecção de arte. Eram como um amor incondicional, alguém de verdade com quem falava até. E não está disposto a abrir mão delas. Cornelius Gurlitt, o dono do apartamento de Munique onde foram descobertas 1400 obras de arte, está decidido a bater-se para conservar junto de si a vasta colecção de arte que, suspeita-se, terá sido em boa parte saqueada no período nazi — pelo menos 590 obras do acervo.

Aquele apartamento de um prédio de Munique era um lugar só seu. Seu e das suas obras, até as autoridades ali encontrarem, em 2011, pintura, desenho e gravura de Henri Matisse, Marc Chagall, Paul Klee, Pablo Picasso, Otto Dix, Emil Nolde, Albrecht Dürer, Pierre-Auguste Renoir, Canalletto e tantos outros.

Agora que o caso veio a público depois de a revista alemã Focus revelar que a apreensão deste vasto lote de arte, sobretudo moderna, esteve em segredo durante dois anos, Cornelius Gurlitt garante que tinha as obras de forma legal na sua posse.

Numa extensa conversa com a Der Spiegel, online neste domingo, Gurlitt fala desassombradamente do caso. “Não entregarei nada voluntariamente”, garante à publicação alemã, que dá a conhecer as declarações de Gurlitt dias depois de o Governo alemão anunciar a criação de um grupo especial de investigação para apurar qual a origem das obras de arte. Algumas eram completamente ignoradas pelos historiadores de arte; outras eram conhecidas e procuradas pelas autoridades, havendo, naquele lote, 200 obras com mandados internacionais.

“Não quero falar com eles [Ministério Público alemão]”, diz Gurlitt, de 80 anos e filho de Hildebrand Gurlitt, um famoso historiador e negociante de arte que ajudou o regime nazi a vender no estrangeiro arte saqueada aos museus europeus e tirada a coleccionadores judeus.

Como as obras estão agora na posse do Ministério Público alemão, entende, quem quiser vê-las tem de se dirigir a quem tem o achado em sua posse. Não que antes alguém pudesse vê-las no seu apartamento, onde estava escondido um lote de obras que, segundo a Focus alemã, valerá mil milhões de euros.

Sugerir correcção
Comentar