Um terço dos portugueses não consegue identificar sintomas de cancro de pulmão

Portugal surge em quarto lugar num estudo sobre o desconhecimento dos sinais de alarme desta que é a doença oncológica mais mortal em todo o mundo.

Portugal surge num desonroso quarto lugar num estudo internacional que avaliou o desconhecimento dos sinais de alerta de cancro de pulmão, a doença oncológica mais mortal em todo o mundo. Um terço (33%) dos portugueses inquiridos neste estudo realizado em 21 países não foi capaz de identificar de forma espontânea um único sintoma desta patologia. Só os egípcios, os argentinos e os mexicanos demonstraram um maior desconhecimento, indica o estudo conduzido pela Global Lung Cancer Coalition (GLCC), que integra mais de três dezenas de associações de doentes.

É um resultado “preocupante” para Portugal, país em que por ano surgem entre 3800 a quatro mil novos casos de cancro de pulmão, a maior parte dos quais em fases muito avançadas da doença, sublinha António Araújo, médico oncologista que preside à associação de doentes Pulmonale (ver entrevista).

O desconhecimento (ou conhecimento) dos sintomas variou bastante de país para país no estudo realizado pela GLCC. Nos 21 países, mais de uma em cinco pessoas inquiridas (e foram realizadas cerca de 17 mil entrevistas no total) não conseguiram identificar qualquer sinal de alarme. Quase metade (48%) dos egípcios inquiridos, 42% dos argentinos e 35% dos mexicanos foram incapazes de referir um único sinal de alerta. Do outro lado da tabela ficaram os  franceses e os irlandeses (apenas 7% e 9%, respectivamente, não  identificaram sinais de alarme).

Os sintomas referidos com maior frequência foram a falta de ar (41%) e a tosse (39%). Poucos inquiridos referiram a tosse com sangue e a tosse que se agrava como sinais de risco. Outros sintomas são a dor ao engolir, a falta de ar,a  perda de peso e de apetite, o cansaço ou falta de energia e as infecções respiratórias persistentes. “Alguns sintomas são muito semelhantes aos que apresenta uma fumador de longa data e muitas pessoas acabam por não os valorizar”, explica  António Araújo.

Resultado?  “Os doentes são muitas vezes diagnosticados com cancro de pulmão numa fase muito avançada quando o tratamento já não é uma opção”, lamenta Matthew Peters, do GLCC, em nota de imprensa. “Se conseguirmos diagnosticar os doentes mais cedo, podemos tratá-los e salvar vidas. Por isso é que estar atento aos sintomas é tão importante”, sublinha. “O problema é que um número significativo de doentes só vai ao médico quando tem manifestações da doença à distância [metástases]”, reforça António Araújo.

Um diagnóstico atempado pode fazer toda a diferença. “A taxa de sobrevivência aos cinco anos, num tumor de pulmão com menos de dois centímetros que seja operado, ronda os 60%. Num tumor já com metástases à distância na altura do diagnóstico a probabilidade de sobrevivência ao fim de cinco anos pouco maior é do que 5%”, esclarece. Em Portugal morrem por ano com esta doença entre 3300 a 3500 pessoas, diz.

Não havendo rastreios, a primeira opção é deixar de fumar, recomenda  o médico, notando que cerca de 80% dos doentes com cancro de pulmão são fumadores.

O estudo da Global Lung Cancer Coalition quis também avaliar a prevalência do tabagismo nos 21 países, mas os resultados, pelo menos no que se refere a Portugal, não coincidem a taxa referida no último inquérito nacional de saúde (20%) . Em Portugal, neste estudo internacional 28% dos 1203  inquiridos eram fumadores, o que correspondia a uma das mais elevadas prevalência no grupo dos 21 países. De resto, 14% diziam ser ex-fumadores e 58% nunca tinham fumado.

No topo estavam os búlgaros, com 41% dos inquiridos a declararem-se como fumadores, enquanto no outro lado da tabela apareciam os suecos e os australianos,  com apenas 12%  e 13% de fumadores, respectivamente. Os espanhóis, com 33%, e os franceses, com 30%, também apresentavam uma elevada prevalência de tabagismo.

A GLCC recorda ainda que o Canadá, a Noruega e a Suécia são dos países com maiores proporções de ex-fumadores (31%, 29% e 29%, respectivamente). São países que introduziram legislações restritivas para controlo do tabagismo, sublinha, a propósito.

O estudo foi realizado em 21 países (Austrália, Argentina, Bulgária, Canadá, Dinamarca, Egipto, França, Reino Unido, Alemanha, Irlanda, Itália, Japão, México, Holanda, Noruega, Portugal, Eslovénia, Espanha, Suécia, Suíça, EUA).
 
 

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