Homossexuais católicos lamentam que bispos continuem contra casamento gay

Associação Novos Rumos acusa a Conferência Episcopal Portuguesa de se estar a isolar do futuro ao incitar o legislador a fazer “tudo o que estiver ao seu alcance” para tornar as uniões entre pessoas do mesmo sexo “ilegais”.

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Acólitos de uma igreja na ilha Terceira: 91,9% dos açorianos são católicos Rui Gaudêncio

A associação Rumos novos - Homossexuais Católicos considera que a carta pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), a propósito da ideologia de género, só pode ter como objectivo “condicionar as respostas dos católicos portugueses ao próprio questionário do Vaticano”. Este grupo lamenta que os bispos não enfrentem a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo e considera que a posição que defendem vai afastar fiéis.

O Papa Francisco enviou às Conferências Episcopais de todo o mundo um inquérito sobre temas polémicos, entre os quais estão as uniões entre pessoas do mesmo sexo e adopção por parte destes casais, com o objectivo de ouvir as bases. Trata-se de um documento que visa preparar o próximo Sínodo da Família. A associação de homossexuais católicas acusa a CEP de querer condicionar o sentido das respostas.

A carta pastoral divulgada pelos bispos, que estiveram reunidos em Fátima desde segunda até quinta-feira, explana as posições da CEP a propósito de vários temas ligados à sexualidade e o tom geral é, entre outros aspectos, o da defesa da complementaridade entre homem e mulher e o da rejeição das uniões de pessoas do mesmo sexo ou da adopção por parte destes casais.

“O uso de uma linguagem que esperávamos ter já visto irradiada do seio dos bispos portugueses e a agressividade da mesma, particularmente no referente ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, somente continua a provocar a exclusão e marginalização destes fiéis no seio da igreja e acentuar a sua ferida e sensação de não-pertença ao corpo de fiéis”, lê-se no comunicado enviado pela associação de homossexuais católicos, que considera que o documento da CEP “só serve para continuar a estigmatizar, em vez de fraternalmente amar e acolher”.

A nota enviada pelo presidente desta associação, José Leote, considera ainda “inadmissível que a hierarquia tente moldar a sociedade de acordo com os seus próprios parâmetros e visão, como é o caso dos comentários efectuados nesta carta pastoral à legislação que aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo”: “Mais inadmissível ainda, porquanto, se trata de uma tentativa de ingerência numa esfera que não é a sua, não com o intuito de contribuir, mas de a moldar ao seu pensamento”, acrescentam.

Entre outros excertos, a CEP afirma que “as alterações legislativas que reflectem a mentalidade da ideologia de género” não são irreversíveis: “E os cidadãos e legisladores que partilhem uma visão mais consentânea com o ser e a dignidade da pessoa e da família são chamados a fazer o que está ao seu alcance para as revogar”.

CEP isola-se do futuro
Este grupo de homossexuais católicos acusa a CEP de se estar a isolar do futuro ao incitar o legislador para que “faça tudo o que estiver ao seu alcance” para tornar as uniões entre pessoas do mesmo sexo “ilegais”.

Os membros desta associação de homossexuais católicos lamentam ainda que a CEP não esteja na disposição de enfrentar estas questões, “apesar da abertura pastoral que o Papa Francisco tem demonstrado”. E consideram que a CEP continua antes “determinada em reafirmar vezes sem conta aquela que tem sido a posição da Igreja Católica” – a de que a orientação homossexual, incluindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, “não é natural e deve ser combatida”.

 “As pessoas católicas que vivem nestas uniões têm famílias, amigos e conhecidos que têm estado e estarão cada vez mais desligados da igreja, devido à rejeição desta em relação à orientação sexual dos seus filhos e filhas, que conhecem e amam”, alegam.

Entre outros parágrafos da carta pastoral, pode ler-se que a ideologia de género “pretende desconstruir a matriz heterossexual da sociedade”. Neste documento, a CEP escreve ainda que “a sociedade edifica-se a partir desta colaboração entre as dimensões masculina e feminina”: “Em primeiro lugar, na sua célula básica, a família. É esta quem garante a renovação da sociedade através de geração de novas vidas e assegura o equilíbrio harmonioso e complexo da educação das novas gerações. Por isso, nunca um ou mais pais podem substituir uma mãe, e nunca uma ou mais mães podem substituir um pai”.

A carta pastoral defende ainda que “num contexto em que se discute a legalização da adopção por pares do mesmo sexo não é supérfluo sublinhar a importância dos papéis da mãe e do pai na educação das crianças e dos jovens”: “São papéis insubstituíveis e complementares”. E acrescenta: “Uma criança desenvolve-se e prospera na interacção conjunta da mãe e do pai, como parece óbvio e estudos científicos comprovam”.

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