Tudo aqui é imaculado

Waldemar Bastos é um músico raro: dotado de uma voz grave extraordinária e de um talento imenso para o violão, faz os seus discos sucederem-se com uma lentidão exasperante. Mas talvez ele faça bem em só lançar quando está absolutamente certo da valia do seu trabalho, pois disco após disco oferece-nos pérolas que, infelizmente, têm recebido menos elogios do que o que efectivamente merecem. Classics of My Soul, por exemplo, é um disco perfeito, como Renascença já o era. Os clássicos que Bastos aqui escolhe são uma mistura de canções que a cultura angolana identificou como clássicos (Muxima sendo o exemplo mais óbvio) e de canções que ele nunca editara mas que, para si, já atingiram esse patamar de eleição. O disco centra-se na voz e no violão de Waldemar, ao redor dos quais orbitam meticulosos e luxuosos arranjos: os metais e o órgão vintage em Tata ku matade, a orquestra realçando a tristeza da belíssima Aurora. O disco, aliás, divide-se entre as faixas que são acompanhadas pela orquestra, aquelas em que os arranjos se ficam pelos metais e um terceiro grupo, em que os arranjos ocidentais desempenham um papel mais subtil, como em Pôr-do-sol, em que um órgão antigo e ocidental convive em perfeita harmonia com as percussões africanas e o exímio trabalho de guitarra. Tudo emClassics of My Soul é imaculado: a escrita (estamos a falar de 11 canções extraordinárias), o violão, a voz, os metais e as cordas. Um disco sublime.

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