Relações com Angola devem ser geridas com discrição e sem emoções, aconselha José Lamego

“O que é importante é não considerar que a questão angolana é uma questão de política interna, mas sim de política externa. E todas as questões de política externa são resolvidas com discrição e racionalidade e sem qualquer emoção”, disse o ex-governante socialista aos jornalistas à margem de uma mesa redonda sobre a situação em Moçambique.

Questionado sobre a recente tensão nas relações entre Lisboa e Luanda, Lamego afirmou que “é preciso dar mais atenção ao conteúdo substancial das relações, que é bastante intenso, (...) do que a declarações de conjuntura”. O mais importante, disse, “é saudar Angola pelos 38 anos de independência, com a certeza absoluta de que as relações entre os dois Estados serão intensas e, como disse o embaixador de Angola, baseadas no respeito recíproco”.

O embaixador angolano em Lisboa, Marcos Barrica, defendeu na segunda-feira que o país sempre conduziu as suas relações com os parceiros internacionais na base da igualdade, respeito e não ingerência e avisou querer manter esses princípios. Durante o discurso na cerimónia que assinalou o 38.º aniversário da independência de Angola, José Marcos Barrica sublinhou a forma como considera que devem ser as relações entre países parceiros.

Dedicando um agradecimento especial aos portugueses “que tão afectuosamente” acolhem os angolanos, o embaixador lembrou que “o Estado angolano sempre conduziu as relações com os seus parceiros de cooperação internacional na base da igualdade soberana, respeito mútuo e não ingerência”.

As relações entre Portugal e Angola sofreram alguma tensão depois de, no início de Outubro, o ministro português dos Negócios Estrangeiros ter pedido “desculpas diplomáticas” ao Estado angolano pelas investigações judiciais que atingem altas figuras daquele regime, declarações que provocaram polémica em Lisboa. Dias depois, José Eduardo dos Santos anunciou a suspensão da anunciada parceria estratégica entre Luanda e Lisboa.

O Ministério Público português anunciou entretanto o arquivamento, datado de 18 de Julho, do processo de investigação ao Procurador-Geral da República angolano, João Moreira de Sousa, concluindo que as operações financeiras efectuadas “se encontravam justificadas” e suportadas numa relação negocial “legítima”, sem despertar “censura” em sede criminal.

O chefe da diplomacia angolana, Georges Chikoti, disse recentemente, em entrevista à Televisão Pública de Angola, que Luanda deixou de considerar prioritária a cooperação com Portugal, elegendo África do Sul, China e Brasil como alternativas. Entretanto, foi também cancelada a cimeira Portugal-Angola inicialmente prevista para este ano e depois adiada para Fevereiro de 2014.