Palestina indica Israel como “único suspeito” da morte de Arafat

Relatório dos cientistas suíços publicado esta semana revelou que o corpo de Arafat tinha níveis elevados de polónio. Israel recusa acusações.

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Homenagem em Gaza após a morte de Yasser Arafat, em 2004 Suhaib Salem/Reuters

A comissão palestiniana encarregada de investigar a morte do ex-líder da Autoridade Palestiniana Yasser Arafat apontou, nesta sexta-feira, Israel como o “único suspeito” do homicídio. A acusação vem no seguimento de um relatório que revelou esta semana que o organismo de Arafat apresentava elevados níveis de polónio, uma substância altamente letal.

“Israel é o primeiro, o principal e o único suspeito no caso do assassinato de Yasser Arafat”, defendeu o presidente da comissão de inquérito, Tawfiq Tiraoui, citado pela AFP, durante uma conferência de imprensa em Ramallah, na Cisjordânia.

A investigação palestiniana afirma que as suas conclusões são sustentadas pelo relatório elaborado pelo Centro de Medicina Legal da Universidade de Lausanne, na Suíça. Cerca de 60 amostras dos restos mortais de Arafat foram repartidas por três equipas de investigação: uma russa, uma suíça e uma francesa. Os investigadores suíços encontraram no corpo de Arafat um nível 18 vezes superior ao que seria normal do elemento radioactivo polónio. O relatório refere ainda que há uma probabilidade de 83% de que Arafat tenha sido envenenado. Falta ainda a apresentação das investigações das equipas russa e francesa que poderão corroborar as conclusões.

A viúva de Arafat, Suha, acredita que o marido foi assassinado, mas não consegue indicar qualquer suspeito. “Não posso acusar ninguém. Todos querem acusar Israel, eu não posso acusar, não posso saltar para conclusões”, afirmou à BBC, expressando o desejo de querer “documentar” o relatório. “Quero documentar este crime para a história”, disse Suha.

O ex-líder palestiniano morreu a 11 de Novembro de 2004, aos 75 anos, num hospital militar francês. Os primeiros indícios de mal-estar foram notados a 12 de Outubro, quando, após o jantar, Arafat começou a sentir náuseas, diarreia e vómitos. Um primeiro diagnóstico, ainda na Palestina, atribuiu-lhe gripe, mas, por não melhorar, foi visto por médicos egípcios, que também não conseguiram fornecer um diagnóstico. Mais tarde, em França, os médicos também não ofereceram qualquer explicação para a deterioração da condição clínica de Arafat, que acabaria por morrer de acidente vascular cerebral hemorrágico. Não foi feita uma autópsia.

A hipótese de homicídio foi sugerida logo após a morte de Arafat, que muitos palestinianos acreditam ter sido da autoria de Israel. Jerusalém sempre negou qualquer participação, mesmo depois das conclusões do relatório desta semana. “Nunca tomámos a decisão de o magoar fisicamente”, assegurou o ministro da Energia, Silvan Shalom, que na época da morte de Arafat tinha a seu cargo a pasta dos Negócios Estrangeiros.

No Verão de 2012, Suha Arafat apresentou uma queixa-crime contra desconhecidos pela morte do marido, no Tribunal de Nanterre, em Paris. Três juízes de instrução têm, desde então, levado a cabo as investigações.

A Palestina aproveitou a publicação do relatório dos cientistas suíços para pedir uma maior celeridade por parte das autoridades francesas. “Ainda não recebemos qualquer resposta até agora da parte francesa. Enviámos uma nova carta aos francesas a pedir para acelerar o envio dos resultados e ainda estamos à espera”, afirmou o ministro da Justiça palestiniano, Ali Mhanna, esta sexta-feira.
 
 

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