Prejuízos dos quatro maiores bancos dispararam 65% até Setembro

Só o BPI apresentou resultado positivo no final do terceiro semestre do ano. Caixa Geral de Depósitos, BES e Millennium BCP assumem prejuízos avultados, todos na ordem das centenas de milhões de euros.

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O ano em curso está a ser de fortes dores de cabeça para os responsáveis da banca Nuno Ferreira Santos

Com a apresentação dos resultados do BCP, ontem, terminou a ronda de prestação de contas dos quatro maiores bancos de raiz portuguesa para os primeiros nove meses do ano. E o balanço traça-se a vermelho. Apesar de o BPI ter apresentado um lucro de 72,7 milhões de euros, o resultado é um prejuízo global de 1183 milhões, o que aponta para um agravamento do quadro na ordem dos 64%, face aos 719 milhões de euros apurados no final do terceiro trimestre do ano passado.

O BCP é o principal contribuinte para este desempenho, ao assumir quase metade do valor global. O banco liderado por Nuno Amado apresenta um prejuízo de 597 milhões de euros, mesmo assim a recuperar dos 796 milhões apurados a 30 de Setembro do ano passado.

Na contabilização de perdas, segue-se o BES como o banco com o segundo prejuízo mais elevado, a registar um resultado líquido negativo de 381 milhões de euros (lucro de 90 milhões nos primeiros nove meses do ano passado). Já o banco público, a Caixa Geral de Depósitos, aumentou o prejuízo de 130 milhões de euros, no período homólogo de 2012, para 278 milhões até Setembro deste ano.

O BPI conseguiu fechar o terceiro trimestre com contas positivas, mas mesmo assim os 72 milhões de euros apurados constituem um recuo face aos 117 milhões registados no período homólogo do ano passado.

Apesar das repetidas continuadas garantias dadas pelo governador do Banco de Portugal Carlos Costa e pelo presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Fernando Faria de Oliveira, de que o sector bancário nacional está hoje mais forte do que alguma vez esteve, o produto bancário do sector continua a degradar-se.

Entre Janeiro e Setembro, o valor global para os quatro bancos era de 5179 milhões de euros, o que representa um recuo de cerca de 23% face ao período homólogo (6723 milhões de euros). Nesta área de análise, a Caixa Geral de Depósitos foi a mais afectada no seu negócio, com um recuo do produto bancário de cerca de 600 milhões de euros face a 2012. Tanto o Banco Espírito Santo como o Millennium BCP viram o seu negócio global recuar na ordem dos 400 milhões de euros.

2013, annus horribilis
Um cenário que confirma a ideia de que 2013 poderá ser um annus horribilis para o sector financeiro português. Apesar de, em termos de rácios de capital (solidez, core tier 1), os quatro bancos apresentarem níveis confortáveis, acima do patamar recomendado pelo supervisor (10%): o BCP, por exemplo, com 13%, o BES com 10,4%, o BPI com 15,2% (fasquia que em 2008 não chegava aos 7%).

Já os números referentes aos resultados do balanço são menos animadores e apenas o BPI ficou positivo com lucros de 72,7 milhões, abaixo dos 117,1 milhões registados nos primeiros nove meses do ano anterior. O BCP manteve-se no vermelho, ainda que os prejuízos tenham caído de 796,3 milhões para 597 milhões. Já a CGD reforçou os prejuízos para 277,8 milhões de euros (mais 145 milhões do em 2012), enquanto o BES passou de lucros a prejuízos: 381 milhões de euros (um lucro de 90 milhões em 2012).

Os bancos justificam o mau desempenho pelo agravamento da margem financeira, o elevado custo das provisões e imparidades e o aumento dos encargos com o Estado (impostos e pagamentos dos empréstimos).

Daí que 2013 esteja a ser um ano difícil de gerir na perspectiva dos banqueiros. Ontem Nuno Amado, líder do BCP, lembrou mesmo que as receitas do sector entre 2009 e 2013 "sofreram uma queda de 40%, o que vai tornar impossível não fazer nada do lado da procura". Um cenário que reflecte o arrefecimento económico (o desemprego mantém-se historicamente alto, o investimento continua sem regressar, isto apesar dos sinais ténues de animação que se verificam), o que se traduz num aumento do crédito malparado, na desvalorização dos activos imobiliários, logo, em mais imparidades e maiores necessidades de aprovisionamento para a banca. Esta deterioração não é compensada por um reforço robusto da concessão de crédito (um aumento do stock para cobrir as perdas da carteira).

Durante as apresentações dos resultados, os banqueiros já admitiram que este cenário pouco atractivo para os bancos manter-se-á em 2014, a menos que a recuperação económica seja mais forte do que os sinais revelam. Este ano, a contracção da economia portuguesa será de 1,6% (uma melhoria face aos 2% previstos em Julho).

No último Congresso da Ordem dos Economistas, em Outubro, Carlos Costa defendeu que "o grande desafio" da economia portuguesa é responder ao desemprego, dado que a retoma económica absorve o desemprego cíclico, mas não o desemprego estrutural".

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